30 de outubro de 2018

Pobre Brasil!

Escolha feita! O eleitorado brasileiro, a maioria do que votou e todos os que se abstiveram, com o pretexto de lutarem contra a corrupção, em eleições pretensamente democráticas, deu, deram, a vitória ao candidato que recusou o debate com o seu adversário, o candidato radical da extrema-direita, bem apoiado em fake news, declaradamente xenófobo e racista, adepto da pena de morte, o candidato Balsonaro. Pobre Brasil!

12 de outubro de 2018

O Brasil está na berra

     A minha avó materna, segundo me consta, não tenho certezas, era brasileira, chamava-se Anália, e fumava cigarrilhas. Quando eu nasci já ela era duplamente viúva, de um brasileiro, o primeiro, e de um português, o segundo, o meu avô. Muito pouco convivemos, eu e ela. Durante a minha infância e juventude, muitas vezes a Morte visitou a minha família, encarniçadamente. Pai, mãe, avós, tias, tios. Talvez por isso, em compensação, esteja ela, hipócrita  e velhaca, a deixar-me viver, já lá vão noventa anos. Talvez, sei lá, mas sem nunca lhe perdoar  a maldade e o cinismo. Perdoem-me antes. a mim, a fantasia do que estou a fantasiar.
     Da minha biblioteca, vasta, mais de três mil livros, dois dos escritores meus preferidos, são brasileiros, o Jorge Amado e o Graciliano Ramos. Tinha dezoito anos, acabara de ler, com gosto, Erico Veríssimo, "Clarissa", "Um lugar ao sol",quando me veio parar às mãos, "Terras do sem fim", de Jorge Amado. Que emoção! Que exaltação! Mas era o único que, na altura, estava editado, porque os livros de Jorge Amado não eram bem vistos em Portugal. No entanto, ávido, por portas travessas, por este e por aquele, lá os fui obtendo e lendo, à condição, apenas algumas horas, uma noite, vá-lá, até ao raiar do dia, sem falta, a procura é muita, têm de circular, edições brasileiras, por cá proibidas. Hoje, tenho treze deles, entre os quais, "Capitães da areia", "O cavaleiro da esperança", "São Jorge dos Ilhéus", "Subterrâneos da liberdade", "Gabriela, cravo e canela". E depois do Erico e do George, por influência deles, o Machado de Assis, O Euclydes da Cunha, o Lins do Rego, o Guimarães Rosa, o Graciliano Ramos com o imperdível, inesquecível, "Memórias do cárcere", e, mais tarde, o Nasser Radum, o Ubaldo Ribeiro, e até o Rubem Fonseca. 
     Tive dois grandes amigos brasileiros, ambos de S.Paulo, ou melhor dizendo, uma, a Cremilda Medina, e um, o Hermano Penna. Ela, jornalista, ele cineasta, realizador do "Sargento Getúlio", protagonizado por Lima Duarte, o célebre Zeca Diabo, da série televisiva. Conheci-os na Rússia,, em 1983, durante o Festival Internacional de Cinema de Moscovo, que decorreu em Julho desse ano. O conhecimento com Lima Duarte não foi muito além de uma amável e breve apresentação, mas com Cremilda e Hermano, logo houve interesse, simpatia, empatia, ele se foi tornando numa amizade forte, sincera, íntima. Mantivemo-la depois, por correspondência e também pessoal, quando um ou outro, uma, duas vezes, por isto e por aquilo, vieram a Portugal. Até quando durou? Não sei, com mágoa o digo! Que será feito deles? Do Hermano conservo dois postais ilustrados, com prosa amiga e saudosa, e um livro, "Macunaíma", onde escreveu: Para a Helena e Manuel  com a certeza que nossos encontros sempre serão alegria e carinho. De Cremilda, duas cartas, calorosas, comoventes, duma franqueza, dum sentimento, que me ultrapassaram e algo me preocuparam, falando de si e de mim, de nós, do seu trabalho jornalístico, conflituoso, do seu povo, tão sofredor, do Brasil, tão frágil, tão dependente, tão à deriva.
     Recordando o que tenho estado a recordar, e que tantas vezes recordo, pergunto-me o que sempre a mim próprio perguntei e pergunto, quando recordo o que tenho estado a recordar: Porque é que nunca me dispus a  visitar o Brasil? Porquê a relutância e recusa sempre instintivamente sentidas? Não o sei dizer, com toda a franqueza o digo.
     Sim, não esqueci o título que dei a este texto: o Brasil está na berra. Só que, infelizmente, por más razões, e por isso a chamada de atenção. Então, não é que o povo brasileiro está à beira de eleger um fascista para chefiar o país, e é quase certo que o vai fazer. Como é possível?     
     

9 de outubro de 2018

Ai, o Brasil!

Sim, ai o Brasil, mas o mais grave e preocupante é que não é só Brasil, embora seja ele que nos tem andado agora a assustar. Todos os dias os leio e os ouço, todos os dias nos leio e nos ouço, todos os dias pergunto a mim próprio se a História, que dizem, nunca se repete, vai mesmo repetir-se. É certo que gritámos e bem alto, fascismo nunca mais, mas será que nos calámos cedo demais? Alerta! Alerta!