Esta praga que desabou sobre nós, tem-me tolhido demasiado, o pensar, o falar. o fazer, o agir, o prazer do dia a dia da vida, fazendo-me, teimosamente, esquecer que continua a haver muito mais vida para além da insidiosa pandemia. Inesperadamente, foi a leitura, não ocasional, do blogue "duas ou três coisas", do embaixador Seixas da Costa, onde durante alguns dias foi ele revelando e mostrando a capa de alguns dos livros que tiveram importância em algumas fases da sua vida, que me fez libertar um pouco da apatia que me tem envolvido. Ora, os livros sempre foram dos mais próximos, firmes e importantes companheiros da minha vida. Assim, pois, também eu, sacudindo a mente, resolvi desafiar-me a referenciar alguns dos livros da minha vida, sejam todos eles ou não, os escolhidos, "os livros da minha vida". Conseguirei ainda fazê-lo? Veremos.
Confesso que nunca li o primeiro livro que o embaixador foi buscar ao passado e recordou ter lido, tinha então dez anos: "Platero e eu". Um livro poético, publicado em 1914, que descreve a vida e morte dum burrito de estimação chamado Platero, da autoria do escritor Juan Ramón Jiménez, que foi Nobel em 1956. Eu, que sou uns anos mais velho que o embaixador, não muitos, apenas vinte, quando fiz dez anos recebi do meu avô dois livros: "Memórias de um burro" (também um burro, que curiosa coincidência), publicado em 1860, da Condessa de Ségur, e "As aventuras de Polichinélo", publicado em 1883, de Carlo Collodi. Não sei qual o primeiro a que me agarrei, tanto tempo passado, mas recordo a história daquele boneco de pau que virou menino de carne e osso, cujo nome original, italiano, era Pinóquio, e de seu pai, e da lição que recebi daquele burro, chamado Cadichon, sobre a amizade e o respeito a ter pelos animais. Ele, aquele burro nada burro, já que dele falo, faz-me recordar uma vagarosa e balançada viagem de burro, de cerca de 15 quilómetros, da estação de caminho de ferro das Caldas da Rainha até à aldeia dos Vidais, onde passei algumas férias e onde brinquei e me relacionei com aquela que, (não, ninguém podia, então, tal imaginar), viria a ser a mulher da minha vida, a Helena.
Mas algum desconforto pelo que acabo de contar, obrigou-me a puxar mais pela memória, que já não é bem aquilo que era. Pois não, na viagem a que atrás me referi, fiz muitas outras, das Caldas para os Vidais e vice-versa, não era eu que ia no burro, era a Helena. Ela, antes de ir para a sua aldeia dos Vidais passar as férias, tinha ido gozar uns dias de praia, para casa de uma família amiga. Fomos então buscá-la ao combóio, levando o burro que ela montou, tendo eu feito o regresso a pé. Ela tinha uns dez anos e eu quinze ou dezasseis. Só não me consigo lembrar é do nome do burro, de certeza que o tinha, nem de quem ele era.
O´Helena, o burro seria do Zé das Vacas?
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3 comentários:
Muito Bom!
E o Zé das Vacas sempre presente hahahahaha
Atravessado na garganta
O Zé da Vacas emprestou o burro... No fundo um precursor do taxi.
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