22 de junho de 2008

E a burra é ela?

Pela leitura dos jornais, fica-se com ideia que, segundo afirmam os altos representantes dos professores, e corroboram os habituais fazedores de opinião, as provas de aferição do 4º e 6º anos e os exames do 9º ano, nasceram sob o signo do facilitismo.
Já se sabe que nas provas de aferição houve, realmente, menos negativas, mas isso não nos deve alegrar, porque, pelos vistos, tal não significa que os alunos tenham aprendido mais, nem que os professores tenham ensinado melhor. Foi, apenas, o facilitismo, o responsável.
Se, por ventura, os resultados dos exames do 9º ano, como naturalmente se espera, forem positivos, com muito menos negativas, e mais bons e muito bons, encolhamos os ombros resignadamente, porque foram as facilidades, e não o bom trabalho de professores e alunos, as responsáveis. Quer dizer, professores e alunos não passam da cepa torta.
E a burra é a ministra?

13 de junho de 2008

O Debate

Ao ter escolhido, para o debate quinzenal na Assembleia da República, o tema combustíveis, antes mesmo do acordo conseguido com os representantes dos camionistas, o primeiro-ministro desarmou a oposição que, estranhamente, não se mostrou à vontade para falar dos acontecimentos, nem conseguiu alternativas convincentes de discussão. A agressividade teatral do dr. Portas, e as suas perguntas de algibeira, não impressionaram (cada vez impressionam menos), e a habitual má disposição provocadora dos verdes, foi só isso. Bloquistas e comunistas, surpreendentemente, estiveram discretos, o PSD, inócuo, só quiz passar o tempo. Mota Amaral, o escolhido para defrontar o primeiro-ministro, revelou, passivo e bem humorado, que já não tinha idade, nem paciência, para tais andanças.
O primeiro-ministro safou-se bem, sim, mas não evitou que tivesse ficado no ar a ideia que tinha havido, da parte do Estado, falta de autoridade. E houve. O lock-out, que existiu, e que é ilegal, e que é proibido, não foi penalizado. O governo conseguiu, célere, um acordo, sem cedências em pontos chave, mas fê-lo sobre pressão. Não foi um bom precedente.

11 de junho de 2008

Quem avisa amigo é

O sr. primeiro-ministro está a perder o pé, o que dá muita satisfação àqueles que apostam no "quanto pior melhor" (e sabemos quem eles são), mas que não é nada bom para o país. Depois de ter desistido do ministro Correia de Campos (para satisfazer o dr. Alegre), da sua complacência para com os patrões-pescadores (para acalmar o dr. Alegre), agora, a sua tibieza face aos patrões-camionistas (o dr. Alegre também está com eles?), que começam a lançar o país num verdadeiro caos. Sr. primeiro-ministro, até agora não gostavam de si, mas respeitavam a sua firmeza, a sua determinação, daqui para a frente, se teimar na via guterrista que agora parece ter escolhido, além de continuarem a não gostar de si, vão também perder-lhe o respeito. Assim, nas próximas legislativas, nem a maioria relativa vai conseguir, e lá se vai tudo pela água abaixo.

6 de junho de 2008

O Imenso Adeus

Uma edição, com nova tradução, de um livro do escritor Raymond Chandler, tratando-se para mais do seu romance de maior apreço, daquele que, mais do que qualquer outro, atravessa a fronteira entre o bom policial e o bom romance, não se pode deixar que passe em claro. Eu não posso! Contista, romancista, epistológrafo, Chandler faz parte, por direiro próprio, do rico filão dos escritores norte-americanos da primeira metade do século XX, que inclui, entre outros, Dreiser, Fitzgerald, Hammett, Hemingway, Salinger. A vasta e variada bibliografia sobre a sua obra testemunha-o à evidência.
Ainda não tive ocasião de apreciar esta nova tradução que oxalá não desiluda e esteja à altura da de Mário-Henrique Leiria, a primeira, já velhota, salvo erro, de 1954.
Sobre Chandler e a sua obra, escrevi um pequeno livro que intitulei: Chandler & Marlowe. Trabalhei nele durante quinze anos, com muitas interrupções, naturalmente, e terminei-o, à pressa, em fins de 2004, quando descobri que, no ano seguinte, Philip Marlowe, o detective criado por Chandler, e protagonista de todos os seus romances, faria 100 anos, se tivesse existido e fosse vivo. E em 2005, prestando homenagem ao centenário da criatura, editei o livro, 50 exemplares, para oferecer a familiares, amigos e conhecidos. E por aí me fiquei.
A descoberta dos 100 anos tem uma explicação. Em The Big Sleep, seu romance de estreia, Chandler pôs o detective, logo no início, a declarar que tinha 33 anos. Ora o livro, embora publicado em 1939, foi escrito em 1938, e se Marlowe revela ter 33 anos, é porque teria nascido em 1905, o que é o mesmo que dizer que o centenário do seu nascimento cai em 2005. Simples e conciso.

5 de junho de 2008

A ele ninguém o cala.

Ninguém o cala e também ninguém o impede de se amigar com quem entender. Ou não estivessemos em democracia. Mas não me parece digno que diga que se está nas tintas para os seus camaradas que, legitimamente, discordam das suas atitudes para com o partido, e é de grande infelicidade a sua declaração de que é uma imprudência ser de esquerda. Sim, em Portugal já foi de grande imprudência ser de esquerda, era preciso coragem, mas afirmá-lo hoje é, digo-o sem receio, um dislate.
Manuel Alegre tem toda a legitimidade para discordar das orientações do seu, até agora, PS, e do governo que ele apoia, mas tem orgãos próprios, a que pertence, mas aos quais nem sempre comparece, para o fazer, ou, então, faça-o no exterior a eles, dirigindo-se ás bases partidárias, mas só, não conluiado, aberrantemente, com adversários políticos do seu próprio partido.
Francisco Louçã, parceiro de Manuel Alegre no folclórico comício-festa, declarou, e fê-lo sem se rir, que este iria ser a "maior mudança dos últimos anos na esquerda portuguesa". Será que ambos acreditam em tal, diabolisando o PS e não conseguindo atrair o PCP que, quanto a casamentos, só os faz com quem controla e domina?
Não sou militante do PS, como não sou, nem nunca fui, militante de qualquer partido, mas sou de esquerda, e entendi que devia dar a minha
opinião. Disse.

4 de junho de 2008

Uma sugestão de leitura

É apenas isso, uma sugestão para a leitura deste livro: "A Era da Falibilidade. Consequências da guerra contra o terrorismo", da autoria de George Soros. Publicado nos EUA, em 2006, foi editado já este ano, no nosso país, pela Almedina, de Coimbra.
George Soros, cidadão americano, judeu nascido na Hungria, que aos 18 anos (tem agora 77 anos) escapou do seu país natal, depois de ter conhecido o terror nazi, primeiro, depois o poder soviético, é, actualmente, presidente da Soros Fund Management, e responsável por uma rede global de fundações, sem fins lucrativos, dedicados, onde quer que se localizem e funcionem, ao apoio à cultura, à ciência, à educação, ao desenvolvimento, que pugnaram e pugnam por sociedades abertas.
Dividido em duas partes, o livro tem uma primeira de leitura exigente e concentrada, em que analisa, com argumentação abstracta e filosófica, a relação entre o pensamento e a realidade, a atitude da humanidade para com a realidade. Na segunda parte aborda alguns dos mais prementes problemas mundiais da actualidade, o terror, o terrorismo e a guerra contra este, a crise energética global, a proliferação nuclear, e procura dar resposta a duas questões, bem pertinentes, que se entrelaçam: "O que está errado com a América ?" e "O que está errado com a Ordem Mundial ?"
Acreditem que o livro merece ser lido, pensado e discutido. A quem se convencer a dar esse passo, boa leitura.

1 de junho de 2008

Ela que se cuide!

Foi a vitória que esperava, mas não a que desejava. A percentagem obtida por Ferreira Leite não a vai deixar dormir descansada. Os psds deram-lhe o primeiro lugar, mas os ppds demonstraram que unidos, como não estiveram, também podem vencer. Santana Lopes bem o sabe, e o seu discurso foi esclarecedor. Ele, é quase certo, vai voltar a andar por aí, e para ter mais tempo e liberdade para as suas voltas, e não ter que fazer fretes à nova direcção, já anunciou a sua saída da liderança do grupo parlamentar. A Passos Coelho saiu-lhe a sorte grande. Vencer agora, já, na situação em que está o partido, e numa altura em que o país enfrenta tantas dificuldades, seria um pesadelo. O segundo lugar e a percentagem obtida dão-lhe visibilidade, importância, e tempo para ganhar experiência. Ele bem o percebeu, por isso a sua reverência a Ferreira Leite, a sua disponibilidade para com ela colaborar, posicionando-se para ser seu sucessor. Patinha Antão, sem ilusões, desejava, certamente, conseguir o número de votos suficiente para que o seu nome, no futuro, não fosse esquecido. Com os seus 0,6 por cento, é duvidoso que o tenha conseguido. Resta uma referência ao dr. Menezes, porque as suas explosivas declarações de ontem anunciam que a balbúrdia dentro do PPD/PSD vai continuar. E ainda devem vir aí os mimos do dr. Jardim.