CONSCIÊNCIAS MORTAS - 9/04/2008
Há dias comprei um DVD a preço de saldo, não propriamente
por esse motivo, mas por ser um western (não resisto a um filme de cowboys)
realizado por um homem chamado William Wellman e interpretado por Gregory Peck,
Anne Baxter e Richard Widmark. Muitos ainda se lembrarão dos três actores, mas
do realizador penso que poucos. O filme, Yellow Sky (entre nós, Cidade
Abandonada), de um saudoso preto e branco, data de 1948, tem um tema estafado,
uma realização segura mas sem chama, um Gregory Peck simpático, um Widmark
inquietante, e uma Anne Baxter desenvolta, mas ainda longe da sublime EVA que
lhe valeu um Óscar. E sobre o filme está tudo dito. Aliás a notícia é apenas o
pretexto, para eu recordar um outro, também de Wellman, chamado The Ox Bow
Incident (entre nós, Consciências Mortas), de 1943, esse, sim, uma obra- -prima
indiscutível. Um filme relativamente pouco conhecido que na verdade nunca me
canso de recordar. Foi, então, muito mal recebido nos EUA e chegou a ser
proibido em Inglaterra, na altura, repleta de soldados americanos a
prepararem-se para o desembarque na Normandia.
É a história infame de um linchamento. Três homens, três vaqueiros, são acusados de terem invadido um rancho, tendo roubado e morto os donos. De nada lhes vale reclamar inocência, sendo enforcados no próprio local onde tinham acampado para passar a noite. Mas logo após a execução vem-se a saber que não tinham sido eles os assassinos.
É um episódio terrível que uma linguagem fílmica de grande sobriedade, rigor e contida emoção, inteligentemente, escalpeliza. Como esquecer a imagem daqueles ramos descarnados das árvores, com as cordas a balouçar, recortados contra o céu, ou o devastador final, em que o forasteiro, que impotente a tudo assistiu, lê, no salão onde todos os responsáveis estão reunidos, a carta que uma das vítimas escreveu à mulher e aos filhos a despedir-se.
Vi, pela primeira vez, Consciências Mortas, no velho e pecaminoso Olímpia, onde o filme se estreou. Sei que saí com as lágrimas nos olhos e um soluço na garganta. Tinha então quinze ou dezasseis anos. Mas quando muitos anos depois o voltei a ver, a emoção invadiu-me de novo. Ele é, sem dúvida, um dos filmes de cowboys da minha vida.
CONSCIÊNCIAS MORTAS -10/04/2008
É a história infame de um linchamento. Três homens, três vaqueiros, são acusados de terem invadido um rancho, tendo roubado e morto os donos. De nada lhes vale reclamar inocência, sendo enforcados no próprio local onde tinham acampado para passar a noite. Mas logo após a execução vem-se a saber que não tinham sido eles os assassinos.
É um episódio terrível que uma linguagem fílmica de grande sobriedade, rigor e contida emoção, inteligentemente, escalpeliza. Como esquecer a imagem daqueles ramos descarnados das árvores, com as cordas a balouçar, recortados contra o céu, ou o devastador final, em que o forasteiro, que impotente a tudo assistiu, lê, no salão onde todos os responsáveis estão reunidos, a carta que uma das vítimas escreveu à mulher e aos filhos a despedir-se.
Vi, pela primeira vez, Consciências Mortas, no velho e pecaminoso Olímpia, onde o filme se estreou. Sei que saí com as lágrimas nos olhos e um soluço na garganta. Tinha então quinze ou dezasseis anos. Mas quando muitos anos depois o voltei a ver, a emoção invadiu-me de novo. Ele é, sem dúvida, um dos filmes de cowboys da minha vida.
CONSCIÊNCIAS MORTAS -10/04/2008
Não pensava voltar ao tema, mas quando se fala de cinema,
quando falo de cinema, as recordações são avassaladoras e é difícil travá-las.
A paixão é já mais, muito mais, contida, mas ainda existe.
O filme, "Cidade Abandonada", fez-me recordar o,
"Consciências Mortas", e este, por sua vez, muitos outros, embora
seja só um deles que pretendo trazer à baila, "Seven Man From Now"
("Sete Homens Para Abater", entre nós).
Mais um filme de cowboys, também ele pouco conhecido, também
ele estreado, modestamente, no Olímpia. E também ele, digo, excelente, para não
sobrecarregar a expressão obra-prima. Antes de prosseguir, um passo atrás, para
voltar a "Consciências Mortas", e dizer o que não disse, que dos três
enforcados, um era interpretado por Anthony Queen e outro por Dana Andrews, e
que o forasteiro que lia a carta era o Henry Fonda, aquele Henry Fonda que três
anos antes, no papel de Tom Joad, de "As Vinhas da Ira", de John
Ford, jura à mãe, antes de partir, estar sempre presente onde houvesse uma injustiça,
para contra ela protestar. E ele estava lá! "Sete Homens Para Matar"
é de um realizador pouco badalado, chamado Budd Boetticher. Foi um artigo
extremamente elogioso do crítico francês André Bazin que me alertou para o
filme e me fez correr para o Olímpia logo que soube que ele estava lá a ser
exibido.
É uma história trágica e violenta. Uma mulher é assaltada,
violada e morta, por sete meliantes, na ausência do marido. Este parte em
perseguição dos assassinos, para os apanhar e fazer justiça. A caminhada é longa,
a pradaria é bela e selvagem, as peripécias são muitas, há encontros
inesperados, a justiça é feita, a pouco e pouco. Mas não há banhos de sangue,
não há violência gratuita. A morte de um homem pode ser dada através de o som
de um tiro, do sobressalto de um cavalo e do seu olhar espavorido. É uma das
sete maneiras. O herói é o canastrão do Randolph Scott, um cara de pau que
Boetticher consegue transformar num marido pesaroso, mas muito íntimo, e num
excelente pistoleiro. Boetticher é sóbrio, inventivo, tem o sentido do trágico,
mas também do humor. Fez sete westerns, e este é aquele que deveria constar
daquela lista de "1001 filmes para ver antes de morrer". E não é!
*
Continuo a gostar de cinema, e muito, mas cada vez me atrai menos o ir ao cinema. Mas se algum destes filmes nos visitasse de novo, iria até eles estivessem onde estivessem. (14/09/2017)
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