6 de julho de 2007

SÉCULO XIX


A Dama Pé-de-Cabra, de Alexandre Herculano
Conto que tem por subtítulo, Rimance de um Jogral, uma lenda do século XI, e que foi publicado no nº 88 do periódico, O Panorama, de 2 de Setembro de 1843, e mais tarde, em 1851, incluido no livro, Lendas e Narrativas: (O Alcaide de Santarém; Arrhas por Foro d’ Hespanha; O Castelo de Faria; A Abóbada; A Dama Pé-de-Cabra; O Bispo Negro; A Morte do Lidador; O Pároco da Aldeia; De Jersey a Granville). É a história de uma formosa dama que morre em pecado por ter cometido adultério, daí resultando que a sua alma vá para o inferno, ficando ao serviço de Belzebú como alma penada, e o que daí resulta.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.
v. A Dama Pé-de-Cabra, edição 1986, Edições Rolim, colecção Fantástica-24, Lisboa.

A Estrela Brilhante, de Eduardo Augusto de Faria
Um longo e intrincado romance de mistério, magia, e um extenso rol de crimes, impresso, em 1845, na Typ. Revolução de Setembro, de Lisboa.

A Torre de Caim, de Luiz Augusto Rebelo da Silva
Conto cuja origem é uma lenda do século XI, uma tragédia de amores e ódios dominados pelo sobrenatural, publicado pela primeira vez no periódico, O Panorama, de Setembro de 1846.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.

A Feiticeira do Douro, de Eduardo Augusto de Faria
Romance editado, em 1847, pelo Editor – I. C. d’Aguiar, de Lisboa. História de uma vingança em cumprimento de uma profecia. A protagonista é a moira Zulmira (disfarçada na bruxa Ramizel) e quase tudo se passa nos subterrâneos tenebrosos do castelo da Murta.

O Esqueleto, de Camilo Castelo Branco
A chamada literatura “negra” portuguesa deve a Camilo Castelo Branco algumas das suas obras mais representativas, onde estão presentes todos os elementos do horror da literatura gótica, em particular o macabro, mas não o sobrenatural que Camilo, ao contrário de Herculano, não utilizou. O Esqueleto, um pequeno romance publicado, em folhetins, no jornal, O Nacional, do Porto, nos dias 10, 13 e 14 de Julho de 1848, é a primeira dessas obras. Uma história macabra que se desenrola num clima de pesadelo. Uma jovem, Amália de seu nome, é seduzida, esquecida, e, tendo engravidado, morre durante o parto. Segue-se a vingança levada a cabo pelo irmão, que esconde e preserva o cadáver de Amália, para mais tarde atrair o sedutor a sua casa e lançar-lhe nos braços o esqueleto da jovem, antes de o esfaquiar mortalmente. Este texto, como outros posteriores, revela uma certa obsessão de Camilo pelo desenterramento de cadáveres, o que parece ter sido motivado por algo que presenciou ou de que teve íntimo conhecimento na sua juventude.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.
v. O Esqueleto, Edição de 1985, Edições Rolim, Colecção Fantástico-17, Lisboa.

Ódio Velho Não Cansa, de Luiz Augusto Rebello da Silva
Romance histórico, publicado pelo jornal lisboeta, A Época, em 1848/49, e que integra o conto, A Torre de Caim.

Rui de Miranda, de Ayres Pinto de Sousa de Mendonça e Meneses
Romance histórico, tipicamente gótico, de terrível violência conjugal, que tem como pano de fundo a batalha de Alcácer-Quibir, impresso, em 1849, na Typ. R. P. Marinho, de Lisboa.

Anátema, de Camilo Castelo Branco
Um longo e tenebroso romance, cujo primeiro capítulo saiu no nº 18 do jornal lisboeta, A Semana, em 1850, tendo sido impresso, em livro, no ano seguinte, 1851, na Typ. de Faria Guimarães, do Porto.

Os Mistérios de Lisboa e dos Seus Crimes, de Camilo Castelo Branco
Romance publicado, inicialmente, em folhetins, no periódico portuense O Nacional, e depois impresso em livro, em 1854, pela Tipografia J. J. G. Bastos, do Porto. Um chorrilho sem fim de crimes e outras malvadezas.

A Caveira, de Camilo Castelo Branco
Pequeno romance onde, por razões sentimentais, se leva a cabo o desenterramento de um cadáver para se lhe roubar a caveira. A primeira edição é de 1855, da Ed. A. J. da Silva Teixeira, do Porto.

O Livro Negro do Padre Diniz, de Camilo Castelo Branco
Romance impresso, em 1855, na Tipografia F. G. da Fonseca, do Porto. É a continuação de Os Mistérios de Lisboa e dos Seus Crimes.

Obras do Diabinho (ou Fradinho) da Mão Furada, de autor Anónimo
Narrativa de autor deconhecido, mas que alguns estudiosos atribuem a António José da Silva, o Judeu, (1705-1739), só divulgada em 1861, no Brasil, pelo poeta e dramaturgo Manuel Araújo Porto Alegre, e no ano seguinte (1862) em Portugal, publicada em folhetins, pela revista, Archivo Pittoresco. Descreve a viagem de regresso a sua casa, em Lisboa, vindo da guerra de Flandres, onde servira nas milícias de Filipe II, do soldado André Peralta, e do seu encontro, durante a mesma, com o Fradinho da Mão Furada (o diabo em figura de gente) que irá impôr a sua presença, e a sua influência maliciosa, durante boa parte do percurso. História, pois, com dois protagonistas, representando o soldado, o mundo real, e o diabinho, o sobrenatural. Episódios reais e irreais sucedem-se e embaraçam-se, pois, durante toda a novela.
v. Edição de 1973, com apresentação de João Gaspar Simões, Editora Arcádia, colecção Os Grandes Esquecidos, Lisboa.

Uma Récita do “Roberto do Diabo”, de Júlio César Machado
Conto do livro Contos ao Luar: (Os Noivos; Pedrinho; Uma Récita do “Roberto do Diabo”; Salvador e Madalena; O Casal; As Festas da Nazaré; Os Dois Pescadores de Leça da Palmeira; Memórias de um Baile), publicado em 1861, (três edições), e em 1889, com um prefácio de Vítor V. Ferreira, intitulado, Um Homem Tranquilo. É uma história escrita na primeira pessoa que se desenvolve em três planos e dura o tempo de representação da ópera Roberto do Diabo. Ao enredo da ópera (primeiro plano), de cariz fantástico, vamos tendo acesso pelo narrador que a ela está a assistir. Ao longo do espectáculo este é interpelado pelo seu vizinho, com quem vai trocando impressões sobre a representação (segundo plano), o qual, que se virá a saber ser um louco, nos intervalos, lhe revela uma história tenebrosa (terceiro plano), um parricídio, insinuando que é ele próprio o criminoso.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.
v. Uma Récita do “Roberto do Diabo”, edição de 1984, Edições Rolim, Colecção Fantástico-6, Lisboa.

Coisas Espantosas, de Camilo Castelo Branco
Romance social, cuja primeira edição é de 1862, da Livraria António Maria Pereira, de Lisboa.

A Igreja Profanada, de Manuel Pinheiro Chagas
Conto publicado no volume V da Revista Contemporânea Portugal e Brasil, de 1864/65. História trágica, marcada pelo sobrenatural e pelo erotismo, com o mar, simultaneamente destruidor e redentor, em pano de fundo. Inês e Guilherme, irmãos incestuosos, assassinam o padre que os condena e profanam a igreja construida pelo pai de ambos, que os afronta. Igreja e profanadores são engolidos pelo mar.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.

A Torre Derrocada, de A. Osório de Vasconcelos
Conto publicado, como o anterior, no volume V da Revista Contemporânea Portugal e Brasil, de 1864/65, historiando ele também uma tragédia que o mar acolhe e onde uma vez mais estão presentes o sobrenatural e o erotismo. Rosalinda, habitante da velha torre de vigia contra as invasões dos piratas, vende a alma ao diabo para voltar a ter nos braços o seu amante, D. Álvaro, morto na guerra. A sua alma é condenada a penar no mar, qual sereia, para todo o sempre.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.

Contos Fantásticos, de Teófilo Braga
Do autor enquanto jovem, uma colectânea de catorze pequenas histórias de cariz romântico, sentimental e mórbido, com o amor sempre ensombrado pela morte, em ambientes trágicos, sobrenaturais, misteriosos: (Asas Brancas; O Véu; A Estrela d’Alva; Lava de um Crâneo; Beijos por Facadas; A Ogiva Sombria; As Águias do Norte; O Relógio de Estrasburgo; Um Êrro no Calendário; A Adega de Funck; Revelação de um Carácter; O Sonho da Esmeralda; O Evangelho da Desgraça; Aquela Máscara). A primeira edição data de 1865, impressa na Typographia Universal, de Lisboa.

O Esqueleto, de Camilo Castelo Branco
Romance publicado, em 1865, pela Livraria Campos Júnior, de Lisboa. História macabra que nada tem a ver com a do romance homónimo de 1848.

A Estátua Viva, de Álvaro do Carvalhal
Conto melodramático, satírico e provocador, a roçar a farsa, publicado, na Revista de Coimbra, nºs 2 e 3 a 8, entre 1865 e 1866, que foi rebaptizado com o título Os Canibais ao ser incluido no livro, Contos, publicado em 1868. Há três heróis em destaque: D. João (uma versão patética do eterno sedutor), o visconde de Aveleda (a estátua irónica do comendador) e a infeliz e frágil Margarida. D. João enamora-se de Margarida, mas esta apaixona-se pelo visconde e casa com ele. O trágico é que uma parte do corpo do visconde é de pedra, e quando ele o revela, Margarida suicida-se atirando-se de uma janela. D. João, desesperado suicida-se, por sua vez, com um tiro, junto do cadáver da sua amada. E o visconde, a quem só resta, também, suicidar-se, lança-se às labaredas do seu fogão de sala. A carne assada do seu corpo é comida pelos seus herdeiros, o pai e os irmãos de Margarida.
v. Antologia do Conto Fantásico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa
v. Os Canibais, edição de 1984, Edições Rolim, colecção Fantástico-5, Lisboa.

Contos e Lendas, de Luiz Augusto Rebello da Silva
Os contos e as lendas, reunidos em livro editado, em 1866, pelo editor Matos Moreira, de Lisboa, são: (A Torre de Caim; O Castelo de Almourol; A Camisa do Noivado; Última Corrida de Touros em Salvaterra; Tomada de Ceuta; A Pena de Talião).

Notas Marginais, de Eça de Queiroz
Do escritor enquanto jovem, estes escritos de grande irreverência estilística e temática, visionários, fantasistas, por vezes fantasmagóricos. São vinte folhetins publicados na, Gazeta de Portugal: (Notas Marginais; Sinfonia de Abertura; Macbeth; Poetas do Mal; A Ladaínha da Dor; Os Mortos; As Misérias; Farsas; Ao Acaso; O “Miantonomah”; Misticismo Humorístico; O Milhafre; Lisboa; O Senhor Diabo; Uma Carta; Da Pintura em Portugal; O Lume; Mefistófeles; Onfália Benoiton; Memórias de Uma Forca), entre Março de 1866 e Dezembro de 1867, e um no, Revolução de Setembro: (A Morte de Jesus), entre Abril e Julho de 1870. Postumamente, em 1905, os textos foram compilados num volume a que foi dado o título de Prosas Bárbaras.

Contos, de Álvaro do Carvalhal
Seis histórias arrepiantes, bem características da literatura negra: (Os Canibais; O Punhal de Rosaura; A Febre do Jogo; A Vestal; Honra Antiga; J. Moreno), escritas entre 1865 e 1868, e publicadas em livro, nesse último ano, pelo editor Simões Dias, do Porto.
v. 6 Contos Frenéticos, 1ª edição, 1978, Editora Arcádia, colecção Meia-Noite, Lisboa.

O Mandarim, de Eça de Queiroz
Romance publicado em folhetins no Diário de Portugal, em Julho de 1880, e republicado, em livro, em versão integral, no ano seguinte, 1881. Uma parábola. O amanuense Teodoro, seduzido pelo diabo que lhe garante a impunidade, aceita matar um homem, um mandarim, a viver lá para os confins da China, e, assim, herdar a sua fortuna, tendo para o efeito apenas que tocar uma campaínha. O remorso, ao vir, é devastador, mas tardio. E a mensagem final é: “Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”

O País das Uvas, de Fialho de Almeida
Livro de contos publicado 1893: (Pelos Campos; Ao Sol; As Vindimas; Os Pobres; Amores de Sevilhano; O Filho; A Taça do Rei Thule; O Cancro; Conto de Natal; A Princesinha das Rosas; Divorciada; O Anão; Tragédia na Árvore; A Velha; Idílio Triste; O Corvo; O Antiquário; O Menino Jesus do Paraíso; O Conto do Almocreve e do Diabo; Três Cadáveres). Vinte contos que, na ausência de uma unidade temática, reflectem, isso sim, algumas das reconhecidas inclinações literárias do autor para ficções de terror, de ambientes tenebrosos e mórbidos, de fantasmagorias, de seres em degradação física e moral.

Contos Fantásticos, de Teófilo Braga
Edição, corrigida e ampliada, da colectânea de 1865
v. 2ª edição, 1894, Parceria António Maria Pereira, Lisboa.

O Defunto, de Eça de Queiroz
Conto publicado em folhetins na Gazeta de Notícias, de 7 a 16 de Agosto de 1895, e incluído, postumamente, no livro Contos, de 1902. Apetece perguntar, porquê O Defunto e não O Enforcado, se é sempre como o enforcado que o autor a ele se refere? Só Eça o poderia explicar. É o enforcado, a figura central da história, é ele que, “por vontade de Deus, e por vontade d’Aquela que é mais cara a Deus”, salva o devoto e ingénuo D. Rui de Cardenas da armadilha montada pelo malvado D. Alonso de Lara, dando o peito descarnado à adaga do ciumento marido da inocente e bela D. Leonor. E tudo acaba bem. O enforcado volta para a sua corda no Cerro dos Enforcados, D. Alonso morre de medo, apavorado por ter morto um morto, e D. Rui e D. Leonor, abençoados pelo Bispo de Segóvia, casam ajoelhados face ao altar da Madrinha divina, Nossa Senhora do Pilar.

O Que Há-de Ser o Mundo no Ano Três Mil, de P.J. Suppico de Moraes
Livro que bem pode ser considerado o precursor da literatura portuguesa de ficção científica, e de que só é conhecida uma edição de 1895, dos editores J. M. Corrêa Seabra & Quintino Antunes, de Lisboa, embora o seu autor tenha sido alguém do século XVIII.

O Mistério da Árvore, de Raúl Brandão
Um conto inserido no livro, História de um Palhaço – Vida e Diário de K. Maurício, de 1896, obra primeira do autor, de feição simbolista. Num reino imaginário havia uma árvore enorme, esgalhada e seca, desfolhada e desflorida, que desde sempre servia de forca. Era para ela que o rei, um ser doente, infeliz, desesperado, que odiava tudo e todos, mandava os seus súbditos que, arbitrariamente, condenava. Um dia um jovem casal, desprevenido, entrou no reino. Eram pobres, mas amavam-se tanto e eram tão felizes que contaminavam tudo e todos à sua volta com a sua felicidade. Logo o rei, raivoso, os mandou prender e enforcar na velha e sinistra árvore. E não é que no dia seguinte, milagrosamente, os ramos da árvore se apresentavam floridos, o que nunca na vida tinha acontecido.
v. Antologia do Conto Fantástico Português, 1ª e 2ª edições, 1967 e 1974, Edições Afrodite, Lisboa.

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