23 de março de 2021

Literatura de ficção científica - 8

UTOPIAS

Utopia, lugar de parte nenhuma, é um mundo ideal fora do espaço e do tempo, sociedade sonhada, que se ambiciona perfeita, irreal, que sempre surge como sintoma, aspirando ser solução, de uma crise que se advinha e receia.

As utopias soviéticas nasceram da crise política que desabou na URSS, após a morte de Estaline. No verão/outono de 1965, logo a seguir ao histórico XX Congresso do PCUS, durante o qual Khruchtchev denunciou os crimes de Estaline, o escritor Ivan Efremov concebeu um romance que iria revolucionar a literatura de ficção fantástico-científica soviética, o célebre, A nebulosa de Andrómeda.                                                                        A nebulosa de Andrómeda é uma utopia clássica do século 20, situada no século 30, durante a Era do Grande Círculo. A cultura, a ciência e a técnica alcançaram na Terra o mais alto nível. Uma única sociedade comunista, une, fraternalmente, todos os povos terrestres. O grande objectivo da humanidade é, agora, a vitória sobre o espaço e o tempo, a passagem ao espaço-zero, a possibilidade de comunicação directa e imediata entre todas as civilizações do Universo.                                                                                                                               Na Era do Grande Círculo não há políticos profissionais, não há cargos de responsabilidade ocupados pela mesma pessoa durante muitos anos, não há um governo, mas sim uma governação colectiva de Conselhos, apoiados por Academias especializadas, que decidem em comum, havendo ainda um Conselho de Sábios para resolver possíveis diferendos.    Descrevendo uma futura sociedade comunista, perfeita, harmoniosa e avançada, com pessoas, concepções, situações e técnicas fantásticas, tão longínqua e tão difícil de conceber, Efremov faz, corajosamente, por contraste uma crítica social e política à sociedade comunista soviética do seu tempo.                                                                                  Da lista dos melhores escritores soviéticos de ficção científica da geração de 60 saída da crise que se abatera sobre a União, que tiveram como mestre reconhecido Ivan Efremov e como marco exemplar A nebulosa de Andrómeda, figuram os irmãos Arkadi e Boris Strugatski.                                                                                                                                                O primeiro livro dos Strugatski publicado em Portugal foi, Que difícil é ser Deus. Datado de 1964 é um dos seus trabalhos mais divulgados e elogiados, pelo tema e pelo conteúdo. Ele contém uma mensagem extremamente lúcida e corajosa: não ingerência.                                                     O historiador-explorador temporal Anton e a sua equipa, em missão de observação num planeta que vive a sua idade média, luta consigo próprio para não interferir em acontecimentos, imprevisivelmente violentos e condenáveis, que para além do mais, o afectam sentimentalmente. Ele pode fazê-lo, tendo atrás de si todo o enorme poder da ciência e da técnica da Terra, ele é, ali, naquele planeta, um deus. Mas pode um deus privar a humanidade da sua natural evolução, da sua história? Substituir uma humanidade por outra humanidade?

 

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