15 de agosto de 2017

ESCRITOS (1)

Chandler & Marlowe
Foi o meu primeiro livro. Uma pequena e exclusiva edição de autor, de umas dezenas de exemplares, não para venda, apenas para oferecer a familiares e amigos. Um texto que se debruça sobre a vida e obra do escritor americano Raymond Chandler e, simultaneamente, da vida e investigações do detective Philip Marlowe, protagonista de todos os romances do escritor.
Para uma improvável 2ª edição, preparei um dossiê com o texto revisto, aumentado de um capítulo, de uma introdução, que substitui da nota prévia da 1ª edição, e que seguidamente vou transcrever, e do ensaio, A arte simples do assassínio.

Introdução
Eis uma segunda edição, revista, alterada e aumentada, de um pequeno livro por mim editado, em 2005, de homenagem ao escritor Raymond Chandler, e para assinalar e celebrar o facto, esquecido ou desconhecido por quase todos, de ter ocorrido nesse ano, o centenário do nascimento do detective Philip Marlowe, herói e protagonista de todos os seus romances.

Raymond Chandler escreveu e ficcionou, em fins de 1938, a primeira investigação de Philip Marlowe, a que deu o nome de The Big Sleep. Nela, logo de início, o detective, falando de si a pedido do seu cliente, o general Sternwood, revela, para além de outros dados pessoais, ter 33 anos. Daí o poder considerar-se, assim o entendi, que Philip Marlowe teria nascido durante o ano de 1905.

«Mas é bom lembrar que Philip Marlowe não é uma pessoa real. Ele é uma pessoa imaginária», desabafou Raymond Chandler, em carta de 19 de Outubro de 1951, respondendo ao sr. Inglis, um leitor que tanto o questionava sobre o detective.
Não ignorando o esclarecimento, reconheçamos que o mesmo pode ter sido dito por despeito, não querendo o escritor ser ultrapassado, em importância e prestígio por alguém que apenas devia ser reconhecido como uma criação sua, ou, não por isso, mas apenas por amizade e lealdade para com o parceiro, cioso da sua privacidade.
Naturalmente, é me mais agradável admitir a segunda hipótese do que a primeira, embora esta possa ser mais plausível. Não é de esquecer que em 1941, já depois de The Big Sleep e de Farewell, My Lovely, e antes de High Window, Raymond Chandler tentou fazer esquecer Philip Marlowe, ao entregar para publicação o conto No Crime in the Mountains, dando ao detective-narrador o nome de John Evans, embora ele fosse Philip Marlowe em tudo o mais. Aliás, ainda na mesma carta, em que nega a existência real de Philip Marlowe, Raymond Chandler como que se contradiz ao declarar indignado, linhas à frente: «Repudio a sua sugestão que Philip Marlowe despreza a fraqueza física dos outros. Não sei onde foi buscar tal ideia, e tenho a certeza que não é verdadeira. Estou também um pouco farto das insinuações segundo as quais ele está sempre enfrascado em uísque, A única justificação que vejo para isso é quando lhe apetece uma bebida ele admite o desejo abertamente e não hesita em confirmá-lo.»
Seja como for, o que pretendo dizer é que nada me impedindo de aceitar que Philip Marlowe possa ter sido uma pessoa real, que tenha existido, e não apenas uma criatura imaginada e criada pelo escritor, querendo acreditar nessa possibilidade, sobre ele escrevi, nos dois capítulos que no livro lhe são dedicados, ressalvando que tudo o que revelo, embora suposto, é baseado, tem suporte, nos contos, romances, artigos e cartas do escritor.

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