17 de agosto de 2017

ESCRITOS (2)

Contos do (meu) entardecer
É o meu segundo livro, editado em 2006, numa exclusiva edição de autor, de umas poucas dezenas de exemplares, não para venda, mas como o anterior, para oferta a familiares e amigos. Compõe-se de sete contos de raiz autobiográfica, á excepção do último, colocado em apêndice, a saber:  Despertar, O amolador e a varinaO hinoAdeus, amigo!Uma manhã da vida deleAté ao fimSinfonia da natureza. E tem um prefácio, que é da Teresa, e não pode ser esquecido.

 Em estilo de prefácio

Quando o meu pai me pediu que escrevesse o prefácio para o seu primeiro livro de contos afoguei-me em duas sensações antagónicas, já não me recordo qual surgiu primeiro, se o receio de o desiludir, se o desconforto por ter de ler novamente aqueles contos que me revelavam as fragilidades e a grandeza que eu já sabia fazerem parte do meu pai enquanto ser humano sensível. Não me podia permitir entristecê-lo, para isso já bastavam as perdas e as ausências tão evidentes nos contos e que eu já sabia estarem-lhe agarradas à pele desde criança. Nem queria que ele notasse o meu embaraço, não fosse o lema das duas famílias Simões e Loureiro unidas em comunhão de amor "Reage! Devemos sempre reagir aos ventos adversos da vida". Afivelei o meu melhor sorriso e deitei mãos à obra, ou melhor lágrimas nas páginas repletas de palavras emocionadas. As suas memórias de infância perderam a lonjura dos anos e colaram-se-me à pele a ponto de me ressentir  eu própria com a sua perda da mãe e do pai. Os meus medos tolheram-me os movimentos e emperraram-me a escrita; nunca o pude admitir com receio de a atrair, mas na verdade também eu não posso pensar nem ao de leve na palavra morte. Os contos do "seu" entardecer passaram a assemelhar-se aos contos do meu amadurecer e obrigaram-me a confrontar-me com os meus próprios medos. E se um dos meus morre, será que vou suportar a sensação de vazio?
      Nos contos estava resumida a vida do meu pai que se uniu à minha passando a ser uma única. Recordações de um passado perdido que nos ficaram gravadas na carne e na mente, que foram registadas num filme perdido no tempo e que, de repente, faz tanta falta. Morreu "um de nós" e nem sequer temos imagens do que fomos, talvez nos bastem as imagens fugazes que nos atravessam a mente quando fechamos os olhos. Talvez tudo na vida se resuma à capacidade de conseguir um "match point" que faça a bola cair para o campo certo.

Para uma ilusória 2ª edição, escrevi mais três contos: E foi assim...As jóias da coroaÀ letra.


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