É o meu segundo livro, editado em 2006, numa exclusiva edição de autor, de umas poucas dezenas de exemplares, não para venda, mas como o anterior, para oferta a familiares e amigos. Compõe-se de sete contos de raiz autobiográfica, á excepção do último, colocado em apêndice, a saber: Despertar, O amolador e a varina, O hino, Adeus, amigo!, Uma manhã da vida dele, Até ao fim, Sinfonia da natureza. E tem um prefácio, que é da Teresa, e não pode ser esquecido.
Em estilo de prefácio
Quando o meu pai me pediu
que escrevesse o prefácio para o seu primeiro livro de contos afoguei-me em
duas sensações antagónicas, já não me recordo qual surgiu primeiro, se o receio
de o desiludir, se o desconforto por ter de ler novamente aqueles contos que me
revelavam as fragilidades e a grandeza que eu já sabia fazerem parte do meu pai
enquanto ser humano sensível. Não me podia permitir entristecê-lo, para isso já
bastavam as perdas e as ausências tão evidentes nos contos e que eu já sabia
estarem-lhe agarradas à pele desde criança. Nem queria que ele notasse o meu
embaraço, não fosse o lema das duas famílias Simões e Loureiro unidas em
comunhão de amor "Reage! Devemos sempre reagir aos ventos adversos da
vida". Afivelei o meu melhor sorriso e deitei mãos à obra, ou melhor
lágrimas nas páginas repletas de palavras emocionadas. As suas memórias de
infância perderam a lonjura dos anos e colaram-se-me à pele a ponto de me
ressentir eu própria com a sua perda da
mãe e do pai. Os meus medos tolheram-me os movimentos e emperraram-me a
escrita; nunca o pude admitir com receio de a atrair, mas na verdade também eu
não posso pensar nem ao de leve na palavra morte. Os contos do "seu"
entardecer passaram a assemelhar-se aos contos do meu amadurecer e obrigaram-me
a confrontar-me com os meus próprios medos. E se um dos meus morre, será que
vou suportar a sensação de vazio?
Nos contos estava resumida a vida do meu pai que se uniu à
minha passando a ser uma única. Recordações de um passado perdido que nos
ficaram gravadas na carne e na mente, que foram registadas num filme perdido no
tempo e que, de repente, faz tanta falta. Morreu "um de nós" e nem
sequer temos imagens do que fomos, talvez nos bastem as imagens fugazes que nos
atravessam a mente quando fechamos os olhos. Talvez tudo na vida se resuma à
capacidade de conseguir um "match point" que faça a bola cair para o
campo certo.
Para uma ilusória 2ª edição, escrevi mais três contos: E foi assim..., As jóias da coroa, À letra.
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