Caros leitores do Manojas,
Daqui vos fala a Beatriz Loureiro, neta (uma das...),
A mensagem que vos trago hoje veste um trave de amargura mas também de felicidade.
O escritor deste blog, e meu avô querido, Manuel José Trindade Loureiro, faleceu a 24 de abril de 2023 depois de uma luta breve contra a inevitável idade. Claro que teria de ser um dia antes do 25 de abril, nem esperaríamos outra coisa.
Por este motivo, decidi entrar no seu blog e deixar-vos com umas palavras, dele, claro, para que todos possam ter um momento de homenagem e de despedida.
Nunca fui boa com as palavras como o meu avô e por isso acho adequado deixar mais um pedaço dele para todos lerem. Palavras estas que ele escreveu como 'Memórias'.
Aqui ficam...
«Alguém disse e/ou escreveu, não sei quem, não sei quando ou onde, que alguém, homem ou mulher, para ser verdadeiramente alguém, devia plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Não será uma máxima bíblica, mas não haverá homem ou mulher que não queira, não se esforce, não gostasse, de cumprir as três regras. Ouvi ou li a sentença, era então muito novo, e, pretendendo ser alguém, logo me aprontei a cumpri-la. A árvore plantei-a na aldeia dos Vidais, julgo que um pessegueiro, mas também pode ter sido uma pereira ou uma macieira, que, posso jurá-lo, medrou. Quanto ao filho, ainda tive que esperar alguns anos. Aliás, tive dois, um casal, convencionalmente, só depois de ter casado. Mas o mais trabalhoso foi o livro, não obstante o meu desejo de ser escritor…
Gostaria, é verdade, de ter sido um escritor, um romancista, que, em certa medida, vivesse da escrita, mas cedo dei conta que não tinha unhas para o ser. Faltou-me o quê? O dom, o talento, a a imaginação, a coragem, tudo isso e mais alguma coisa? Sei lá! O que sei, no entanto, é que tal não evitou que tivesse escrito páginas e páginas, muitas rasgadas, de histórias inacabadas, de ideias não concretizadas, mas nem todas perdidas, quase todas engavetadas.
Há coisas que não contei, há coisas que não vou contar.
Há coisas que não quis ouvir, há coisas que não quis ver.
Há coisas que esqueci e coisas que quis esquecer.
Há pensamentos, sonhos, angústias, mágoas, desejos … que ficam comigo, que morrerão comigo.»
Manuel José Trindade Loureiro
19/07/1928 - 24/04/2023
Obrigada a todos,
Qualquer contacto que queiram fazer deixo o meu e-mail - beatrizloureirofernandes@gmail.com
Beatriz Loureiro