17 de abril de 2013

A carta

O pivot de serviço disse, por estas ou outras palavras: "A carta de  Passos Coelho a Seguro a que tivemos acesso". Então o primeiro ministro escreve uma carta ao secretário geral do PS e a comunicação social, ou parte dela, tem acesso à carta, assim, sem mais nem menos, como que às escondidas. Como? Porquê? Quem a divulgou, ao mesmo tempo ou mesmo antes de a enviar, como se pode especular? E porque não foi ela, então, logo lida e transcrita na íntegra pela comunicação social? É que se o fosse, logo se perceberia, como já se percebeu, que Seguro, se tivesse recusado o convite, tinha todas as razões para o fazer. A carta é bem explicita, é só para inglês ver, não há nada a discutir, está tudo resolvido. Passos Coelho só quer de Seguro um sim, mesmo que envergonhado. Mas esperemos que tal não aconteça, e só é pena que Seguro não tivesse dito a Passos que assim não, não haveria encontro, e que, de qualquer maneira, primeiro iria receber e falar com a troika, porque, infelizmente, é a troika que manda no governo. É, portanto, à troika que Seguro tem que explicar que a solução não está em mais e mais austeridade, em continuarmos a escavar no buraco para onde ela nos atirou. Claro que Seguro não vai utilizar o verbo escavar, bem sabemos porquê. Mas isso não é o mais importante.

16 de abril de 2013

Audiências

Não entrem em euforia uns nem em pânico outros. Já disse noutro local: para quê comparar serradura com pão ralado? Claro que Marcelo tem mais gente a ouvi-lo do que José Sócrates, qual é a admiração!? Noutros tempos, também não eram o Diário de Lisboa ou o República os jornais mais lidos, assim como hoje as preferências vão para um pasquim chamado Correio da Manha. Temos que dar tempo ao tempo, porque a ignorância, a estupidez, a incultura, a inveja, a mesquinhez, não se esfumam de um dia para o outro, e a herança é pesada. É uma herança que, só para dar dois dos valores mais chorudos, contém anos e anos de Inquisição e de salazarismo. É obra! Oxalá Sócrates se mantenha corajosamente como até aqui, com um discurso sóbrio, actual, objectivo, verdadeiro. Manipuladores da verdade já cá os tinhamos em demasia.

9 de abril de 2013

Resposta a um desafio

O desafio vem hoje no jornal Público e é o de Rita Brandão Guerra através do seu artigo, "Guião para resistir às tempestades políticas", onde compara as reacções de Sócrates ao chumbo do PEC IV e as de Passos Coelho ao chumbo dos quatro artigos do Orçamento, e constata que elas são aparentemente semelhantes, concluindo que: "em momentos em que a crise política se agita com a oposição a romper consensos, a lógica de contra-ataque dos chefes de governo é expressa por uma tese simples: enquanto o executivo se bate pela defesa dos interesses do país, o principal partido da oposição não resiste a jogadas demagógicas com eleições à vista". Então quais as diferenças? Em primeiro lugar, quanto a Sócrates como chefe de governo, sabemos qual foi a sua reacção ao chumbo do PEC IV, mas ele não é agora o chefe da oposição. Quanto a Passos Coelho, sim, sabemos a sua reacção num caso e noutro. Mas o que é importante é saber os motivos das reacções  dos dois chefes de governo aos chumbos, para constatar se elas, a de um e a de outro, parecendo semelhantes, realmente o são . E se o são, se ambas são justas. Vejamos, então! Apesar dos apelos do chefe de governo José Sócrates, o PEC IV, que já tinha a aprovação da UE, e evitava, no imediato, a vinda da troika, com êxito futuro ou não, nunca saberemos, foi chumbado por uma coligação de seis entidades que levou à queda do governo: Presidente da República (por vingança), PSD e CDS (pela cobiça de ir ao pote), BE, PCP e Verdes (por despeito, inveja e ódio). Apesar dos avisos de que havia artigos que atropelavam a Constituição, o governo de Passos Coelho insistiu neles e o Orçamento foi em parte chumbado pelo TC por conter artigos inconstitucionais. Em resumo, houve dois chumbos, duas reacções a eles com dizeres semelhantes, mas um coerente e outro inconveniente.  

29 de março de 2013

Sócrates, igual a si próprio

Corajoso, frontal, coerente, bem preparado, um político da estirpe de Cunhal e de Soares, menos metódico e frio do que o primeiro, menos consensual e caloroso do que o segundo, mais impetuoso e emotivo do que ambos, um grande político, que não deixa ninguém indiferente. A notícia da sua vinda e agora a sua entrevista assustaram a direita, com a camada fascista a enraivecer-se, e incomodaram a esquerda radical e comunista. Com razão, porque agora vão ter alguém a fazer-lhes frente, a sério, sem medo, através da palavra, do raciocínio, da inteligência, do saber, mas com a educação que tanta falta faz aos seus adversários, de um e doutro lado, sempre dispostos ao insulto, à ofensa, à infâmia, à mentira. Oiça-se ou leia-se, por exemplo, o que já disseram o Carrilho, o Sarmento, o Rangel, o Ricardo Costa, o Gomes Ferreira, o Henrique Monteiro, e aguardemos o que irão dizer o professor Marcelo e o empertigado Mendes.  

21 de março de 2013

Boas noticias!

São duas e vêm escarrapachadas na primeira página do Diário de Notícias de hoje.
A primeira é sobre o ex-primeiro-ministro José Sócrates que vai regressar em Abril como comentador político, contratado pela RTP. É surpreendente, inesperada, mas é mesmo uma boa notícia, embora não para todos. A direita fascista e a esquerda radical e comunista, em conluio, já devem estar a arregaçar as mangas para o atacar. Mas ele tem arcaboiço e não vai ser um adversário fácil. Aguardemos.
A segunda é sobre o autarca de Sintra, Fernando Seara, cuja candidatura à Câmara de Lisboa foi impedida pelo Tribunal cível de Lisboa, ao abrigo da lei de limitação de mandatos. É também uma boa notícia, embora também não para todos, mas não é inesperada nem surpreendente. As leis são para se cumprirem e esta foi aprovada por larga maioria, senão por unanimidade, na Assembleia da República. Se contém algo de errado a Assembleia que a corrija, mas não é o ridículo problema da alteração do "da" pelo "de" que altera o sentido  da lei.

17 de março de 2013

Sem ofensa

Sem ofensa, naturalmente, porque o homem não tem culpa de, por factores fisiológicos ou sócio-                 -psicológicos, ou por ambos, ser como é, ou seja,  ser um mentiroso e um manipulador, que demonstra uma total falta de emoções, de sensibilidade, de capacidade para imaginar o sofrimento do seu semelhante, ser alguém incapaz de reconhecer os seus erros, de aceitar a responsabilidade pelos seus actos, em resumo, ser um psicopata. É urgente, destitui-lo e deportá-lo.

11 de janeiro de 2013

A Conspiração

Como à cerca das bruxas, também sobre a teoria da conspiração, à excepção do meu amigo HC, ninguém quer acreditar que ela existe, mas que na prática há conspirações, há! E, na realidade, até há uma agora entre nós, e bem preocupante. Eu, pelo menos, sinto-me preocupado e ameaçado. É uma conspiração que visa ter o controlo da taxa de mortalidade da terceira idade, ou seja, dos reformados e pensionistas. Os fautores dela, naturalmente, bem intencionados, andam incomodados com alta longevidade dos pensionistas (incrivelmente, já se ultrapassam os 80 anos e em boa forma física), tão custosa, tão dispendiosa, e procuram meios para obviar a tal situação. Meios humanitários, evidentemente, solidários, naturalmente, que, para além das muitas restrições gerais já em vigor, poderão começar a ser os cortes no valor das pensões, em todas elas como é justo, mas, principalmente, nas mais baixas, porque são as mais numerosas, tentando assim convencer, racionalmente, essa franja da população, que bem melhor que viver nesta terra, melhor seria arranjarem maneira de irem para os anjinhos.

10 de janeiro de 2013

Ainda sobre o Orçamento e o Presidente

Foi com perplexidade que se soube que o Presidente da República não tinha pedido urgência ao Tribunal Constitucional, para se pronunciar sobre as três normas do Orçamento de Estado que lhe enviara para fiscalização  sucessiva, e também com estranheza por não terem sido divulgadas as alegações que, necessariamente, acompanharam tal envio. Julgo não ser difícil adivinhar as razões, ou melhor, a razão de tal atitude e de tal resolução. O Presidente da República é muito cioso da sua imagem e, certamente, não quer que se diga ou pense que ele estava, de qualquer modo e em qualquer sentido, a pressionar o Tribunal Constitucional.  Das suas muitas preocupações há uma que, naturalmente, o Presidente da República não pode descurar, a sua imagem na História. Diz-me, espelho meu...!

9 de janeiro de 2013

Sobre o Orçamento: é assim, ou entendi mal?

O Presidente da República promulgou o Orçamento de Estado, mas enviou três das suas normas  ao Tribunal Constitucional, para fiscalização sucessiva. Embora desconhecendo as alegações apresentadas, tal procedimento só pode significar que o Presidente não teve dúvidas sobre a inconstitucionalidade das ditas normas e, portanto, solicitou ao Tribunal Constitucional que, de acordo com as suas competências e pareceres, assim as considere e classifique. Porque, se o Presidente algumas dúvidas tivesse quanto à constitucionalidade das mesmas, tê-las-ia enviado ao Tribunal para fiscalização preventiva, iniciativa que só ele podia tomar, antes de promulgar o Orçamento de Estado.  

4 de janeiro de 2013

Chandler & Marlowe

Voltando ao assunto e à entrevista do escritor John Banville, na revista LER, queria ainda acrescentar, sobre Philip Marlowe, criatura do escritor Raymond Chandler, o seguinte, embora sabendo que Banville não me vai ler: Marlowe nasceu em 1905, por isso ele informa o general Sterwood, no princípio de The Big Sleep, escrito em 1938, que tinha 33 anos. Quanto a paixões, ele realmente teve duas, uma, platónica, por Anne Riordan  (ele pode seduzir uma duquesa mas nunca corromperá uma virgem), e outra, carnal, por Linda Loring, e quanto a cenas de sexo, há pelo menos três, embora sem pormenores escusados, com Linda em, The long goodbye, e com Miss Vermilyea e depois Betty Mayfield, em, Playback. Não, Marlowe não é um sentimental, mas é um homem de consciência que toma por vezes atitudes que podem passar por sentimentais. É verdade que não há notícia de ele ter estado nos campos de batalha da Europa ou da Ásia, durante a guerra, o que não significa que não tenha exercido qualquer actividade, por exemplo na contra-espionagem. Não esquecer que depois de The lady in the lake, escrito em 1941/2, ele só vai reaparecer em 1949. E por aqui me fico, embora houvesse mais que dizer.

3 de janeiro de 2013

Chandler & Marlowe

Faço parte da legião dos admiradores de Raymond Chandler, consequentemente, não podia deixar escapar o primeiro número da LER deste ano, que anunciava na primeira página: PHILIP MARLOWE volta com John Banville. John Banville é um escritor irlandês que parece pertencer à lista de candidatos ao Nobel. Confesso que para mim é um desconhecido. No interior da revista há uma entrevista com o escritor que revela que será o seu pseudónimo, Benjamim Black, que assinará o seu livro sobre Marlowe, e emite algumas opiniões que me deixam algo perplexo. Claro que Marlowe não existiu, mas considerá-lo apenas um personagem literário e não querer sentir que ele existiu ou podia ter existido, como creio que Chandler tenha chegado a sentir, não me parece a melhor abordagem. Dizer que vai tornar Marlowe mais duro, que ele era um sentimental, que nos seus livros há pouco sexo, que ele, inimaginavelmente,  não evitava avançar para situações em que podia ser espancado ou mesmo morto, que era alcoólico, que estava apaixonado por Terry Lennox,  parecem-me ideias preocupantes e erradas. Desconfio que John Banville, na altura da entrevista, ainda não tinha lido ou relido, com a devida atenção, os romances e as cartas de Chandler sobre Marlowe. O que irá ele fazer de Marlowe e em que época situará ele a história sobre Marlowe? Philip Marlowe morreu no dia em que morreu Raymond Chandler, no dia 29 de Março de 1959. No meu livro, Chandler & Marlowe, por mim editado, apenas escrito para familiares e amigos, descrevi a morte de Marlowe, onde e como ela se verificara, e num capítulo, que posteriormente escrevi, para uma hipotética 2ª edição desse livro imagino o encontro entre Chandler e Marlowe, antes do primeiro enveredar pela vida de escritor e o segundo pela detective particular. Lamento, sorridente, que Benjamim não tenha oportunidade de os ler.