31 de agosto de 2019

Notícias

Não é para mal dos meus pecados, é por hábito antigo e curiosidade natural, ainda não desisti de viver, que compro e leio, todos os dias, um jornal de referência. A escolha é há muito o Público, que, na minha opinião, evidentemente, está entre o dizer, é o menos mau, e o dizer, é o melhor deles. Ele é, assim assim! Ora hoje, na sua primeira página, o Público, em destacadas parangonas, alerta-nos: GOVERNO PROMETEU MANUAIS GRÁTIS NOVOS MAS ENTREGA USADOS. E no seguimento, revela em letras normais: Alunos do 7.º ao 12.º só deviam receber manuais por estrear. Mas não está a acontecer com todos. Ministério justifica-se com Tribunal de Contas. Mais curioso que preocupado, pois, os meus filhos há muito que deixaram o liceu, a minha neta também, e só o meu neto que vai para o 12.º, é que está em perigo de receber um manual usado, mas que talvez ainda se possa salvar, então, repito, mais curioso que preocupado, fui ler o artigo que denunciava a calinada. A autora era a jornalista Clara Viana, o titulo era mais ou menos o mesmo, GOVERNO PROMETEU MANUAIS NOVOS MAS DISTRIBUIU USADOS, e a lenga-lenga que o acompanhava também. Comecei pelos números que, afinal, não eram nada assustadores: Distribuição de manuais gratuitos,em 2018/2019: Total 2.770.476, sendo 2.663.465 de manuais novos e 107.011 de manuais usados; Vales de manuais novos levantados:2.120.883 e de manuais usados: sem informação. Fui-me seguidamente ao historial do caso que parece bem relatado, não mencionando quaisquer controvérsias, protestos, reclamações. Destaco três pareceres: o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, apela: As famílias só devem aceitar manuais que estejam como novos, senão devem exigir que sejam trocados; o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, transmite que tanto ele como outros directores concordam com a opção do Governo: Não vemos nenhuma incongruência. Porque não seriam distribuídos os manuais reutilizados?; a presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Rainha Dona Amélia: Na verdade, estamos muito satisfeitos com a reutilização de manuais, que vai ao encontro do que já praticávamos na escola. Afinal, então, porquê, qual a intenção daquele enviesado título, que nem sei se é da responsabilidade da jornalista, se se não se sabe sequer quantos (e se aceites) ou se houve mesmo a entrega de manuais reutilizados? Logo me recrimino: que mania esta de acreditares na teoria da conspiração. E logo para me recompor: mas não haverá mesmo bruxas?

28 de agosto de 2019

LIXO

Li hoje no computador, um artigo do senhor Germano Oliveira, editor online do Expresso, em que o dito procura denegrir a doutora Elisa Ferreira, relatando um episódio acontecido há dez anos, em Outubro de 2009, durante as autárquicas para a Câmara do Porto. O artigo intitula-se A gamela,o insulto a toda a gente decente e as mulheres da nossa vida, começa com o autor a contar que tinha havido um encontro para conversações dado o seu interessa em fazer a reportagem do acontecimento, e logo revela, sem mais nem ontem: "eu estava em vantagem  para o encontro, já sabia coisas dela e ela nada de mim". E logo a seguir informa que o encontro se dera no dia 2 de Outubro, e comenta: "nunca mais nos falámos e eu continuo em vantagem, sei ainda mais coisas sobre ela e você também". Mas que coisas sabia e sabe ele e nós também, conforme insinua? Durante a campanha que antecedeu as eleições, e Germano Oliveira confessa que da parte  dela, teve todas as facilidades para o sua reportagem, mas não da parte de Rui Rio, Elisa Ferreira que era então deputada europeia, atirou, a certa altura, mais precisamente em 1 de Outubro: "Estou disposta a perder a gamela de Bruxelas". O que deu origem a um relato da tese da deputada, que o arquivo online do Expresso ainda guarda: "É uma grande vantagem ter alguém que não vai para a Câmara porque quer protagonismo ou porque quer gamela Eu perco uma gamela em Bruxelas para vir para o Porto por amor da cidade". Houve quem não gostasse da franqueza, mas outros sim. Prosseguindo, o senhor Germano lamenta os elogios à recente Comissária europeia, à sua promoção, criticando, em particular Rui Rio e Paulo Rangel (mas quem não critica hoje estes dois, mesmo à direita), e termina estranhando que o mérito contínuo ainda valha mais que o demérito momentâneo. Coitado do senhor Germano que teve uma gamela atravessada na garganta durante dez anos. Se este artigo não teve, não tem, intenção política, vou ali e já venho.  
Confesso que estive nessa altura no Porto, onde conheci a doutora Elisa Ferreira, assisti a intervenções suas, à polémica sobre o dito, tenho o seu livro Nunca perdi o norte (2009), autografado, e sinto hoje uma grande satisfação pela sua nomeação a Comissária europeia. Ou seja, não me senti insultado pela gamela e não faço portanto parte daquela toda a gente decente do senhor Germano.

25 de agosto de 2019

Benfica

A equipa de futebol do meu clube, o Benfica, perdeu ontem, em casa, e bem, com a equipa de futebol do Porto. Não foi a primeira vez, não será a última. Não me espantou por aí além. Depois da vitória folgada ao Sporting, a que assisti, em conversa, eu logo disse: Nada de euforias, foi muito consentida. Muito consentidas foram também as do campeonato, e como a sorte nem sempre está disponível...... Na minha qualidade de treinador de bancada, eis os meus pareceres:                                                A equipa do Benfica há muito que não tem uma defesa consistente (não basta ter bons jogadores). Há muito que demonstra falta de confiança no princípio dos jogos (viu-se ontem e viu-se contra o Sporting). Há muito que não tem um capitão influente (tipo Coluna, Chico Ferreira, Albino). Há muito que não tem o nível internacional que já teve (eu assisti a ele). Além do mais, o Benfica optou não por preservar, manter consigo, os jovens jogadores saídos da suas escolas de formação, os melhores claro está, mas por vendê-los. O caso mais recente foi a venda do João Félix. Um bom negócio (talvez) para o bolso, mas não para equipa, nem para o prestígio do clube (a depender muito do da equipa). E por aqui me fico.

23 de agosto de 2019

Entrevista

Refiro-me à entrevista dada ao jornal Público, por Domingos Lopes, publicada na terça-feira passada. Domingos Lopes, ex-militante e dirigente do PCP, que foi secretário de Álvaro Cunhal nos governos provisórios pós 25 de Abril. Eu aconselharia a sua leitura e reflexão aos militantes e dirigentes do PCP. "O PS é um partido sem o qual  nem o PCP nem o BE conseguem fazer alterações na sociedade portuguesa.", O PCP vive a contradição insuperável de se considerar único e, ao mesmo tempo, perceber que não o é.", "E o PCP que tem sempre razão e são os outros que estão errados, é um partido que não tem futuro.", "Se reparar, pela Europa fora, aqueles que não mudaram a tempo, desapareceram.", "O PCP pode definhar, definhar, até deixar de contar", são algumas das considerações críticas do entrevistado, certeiras, incontestáveis. rematadas com uma quase blasfémia, que ele explica: "Álvaro Cunhal deixou um lastro que não é favorável ao PCP."
Mas Domingos Lopes também cometeu uma inconfidência, divulgando um dito, quase uma graçola sem graça, que o jornal noticiou em grandes parangonas, como se tratasse duma bomba: "Em 1974, Marcelo disse-me que era marxista não-leninista". O que Domingos Lopes contou, referindo-se a acontecimentos verificados na Faculdade de Direito, em 1974, foi o seguinte: "Naquela altura, em que todos eram socialistas, também lá havia um assistente, o dr. Marcelo Rebelo de Sousa. Já nessa altura capaz de coisas extraordinárias. Uma vez disse-me que era marxista não-leninista. Olhava-se para ele e via-se logo que era um pilar do marxismo". Uma boutade, claro, ele era marxista uma ova. Mas homem de Direito, atento, culto, inteligente, não duvido que tenha lido, compreendido e apreciado Karl Marx. Karl Marx, pensador genial, crítico implacável da sociedade liberal, capitalista e burguesa, que não pode ser só visto como o profeta da sociedade comunista                                                                  

22 de agosto de 2019

GREVE 2

Ninguém, nem eu, acredita na teoria da conspiração, ou em bruxas. Mas e em bruxos?                      Devido a diligências do Governo a greve foi desconvocada, para uma pausa, para as partes em confronto, motoristas de matérias perigosas e empresários, se sentarem â mesa, dialogarem e com mais ou menos cedências de ambos, darem fim à novela. Mas, inesperadamente, tudo ruiu dada a intransigência do Sindicato dos motoristas e da Antram. Nem chegaram ao pé da mesa e entre várias declarações saliente-se a do porta-voz Pardal, do Sindicato: O objectivo é dar condições dignas a estes motoristas e não estamos preocupados em agradar aos portugueses.                                        Nova greve foi convocada, agora para 7 a 22 de Setembro, bem mais perto das eleições legislativas. Ninguém acredita, nem eu, que a intenção era mesmo essa, que tudo tinha sido pensado e planeado, antecipadamente (por quem?). Mas que aconteceu, aconteceu.

14 de agosto de 2019

A GREVE

Para memória futura, transcrevo aqui alguns comentários que escrevi noutro local, a propósito do assunto em título:

12/8/2019: Sim, o editorial do jornal Público de hoje, da autoria da senhora jornalista adjunta Ana Sá Lopess, é dos mais estúpidos e miseráveis dos muitos que nele têm sido publicados (há excepções, naturalmente), com afirmações absolutamente indignas: "a mais acabada operação de agitação e propaganda de um governo", "o ministro Pedro Nuno Santos acabou de cometer suicídio e parece que não percebeu", "A propósito de Sócrates: Pedro Silva Pereira, o homem menos dotado do país", "o povo do PS que ignorou ou quis ignorar o caso Sócrates", etc. Mas a senhora jornalista acreditará mesmo naquilo que escreveu, ou o seu propósito é apenas agradar ao chefe, aos patrões, ou a quem quer que seja? Face ao disparate, dou-lhe o benefício da dúvida.                                                       Hoje perguntei a mim próprio: Porque raio ainda compras este jornal? Respondi: Porque ainda o considero o menos mau.

13/8/2019: Não sei, e como não sou, nem quero ser, treinador de bancada, nem nunca fui, nem virei ser governante, não vou opinar, Formulo apenas, que os pardais, ambos, voem para longe, e que os negociadores de ambas as partes sejam firmes, mas honestos e realistas, não intolerantes. Nada de ódios, nada de acusações espúrias. 

14/8/2019: Julgo que fui bem claro, mas repito, "os pardais que voem para longe", e não são só dois; "os negociantes de ambas as partes que sejam honestos e realistas", e sim, "nada de ódios, nada de acusações espúrias", não só dos representantes, mas dos próprios patrões e trabalhadores. E não se venha com a treta do, eles e nós, porque o problema é de todos, é do país. Se o governo não tivesse actuado com firmeza, face a uma greve desta envergadura, e nesta época, o que poderia acontecer? Que gritaria não fariam as carpideiras do costume, e os habituais críticos tão criteriosos? Se o não fizesse como aconteceu em abril.

14/8/2019: Pois aí está! A solução estará "nas conversações entre patrões e sindicatos", se, "honestas e realistas", e sem "nada de ódios, nada de acusações espúrias". Não é o que todos desejamos, incluindo, indubitavelmente, o governo?

Sim fui repetitivo, mas sem paranóicos verbalismos, apenas para não deixar dúvidas.

2 de agosto de 2019

Receitas

Eu sei que a bota não dá com a perdigota, mas, que diabo, não podemos levar sempre tudo à letra. Falei, ou melhor, escrevi sobre cinema, de filmes, dos melhores da minha vida, também sobre o rosebud  cinematográfico e livresco, salto agora para um campo bem diferente, para a culinária, se assim devo chamar à recordação de duas receitas do livrinho de receitas do meu avô, a de um licor (o de "pés e folhas de ginja) e a de um bolo (o de "prata").

                                         LICOR DE "PÉS E FOLHAS DE GINJA"

Ingredientes: Um litro de aguardente vínica (por favor, não a trocar por um litro de bagaço), pés e folhas de ginja em cerca de metade, em volume, da aguardente, 400 grs de açúcar, água destilada na proporção de metade do peso do açúcar.
Pôr de infusão, na aguardente, os pés e folhas de ginja, juntamente com meia dúzia de ginjas com caroços, por um período não inferior a um mês, agitando diariamente.
Ao fim do tempo estabelecido, fazer uma calda com a água destilada e o açúcar, deixando-a ferver até ao ponto de fio.
Misturar a calda com a infusão, previamente passada pelo passador, agitar bem e deixá-la esfriar.
Juntar à mistura, já fria, uma clara de ovo e a respectiva casca, agitar bem, e deixá-la em repouso, de um dia para o outro.
Filtrar, engarrafar e beber, com parcimónia se possível
NOTA: O melhor licor de pés e folhas de ginja que tive o gosto de beber, foi o saído duma mistura de calda e infusão que ficou esquecida numa garrafa, durante muitos anos, na dispensa grandinha e a abarrotar de tudo e de mais alguma coisa, da casa dos meus avós. Por mero acaso, encontrei a garrafa, meio escondida a um canto, em uma das prateleiras, com um pequeno rótulo a dizer ginja. Não era vinho tinto como inicialmente julguei. Fui em busca do livrinho de receitas, e lá estava ela. Preparei o licor como era aconselhado e quando, finalmente, o provámos, a Helena e eu, era de beber e chorar por mais. Nunca mais consegui fazer outro com tão especial e raro sabor.
Se eu tivesse imaginado, então, que ainda iria viver mais sessenta anos, encheria a garrafa esquecida de uma nova mistura, guardá-la ia a bom recato, na dispensa, agora nossa, até ao aniversário dos sessenta anos, que já lá vão, do nosso casamento, para mais uma vez o beber e chorar por ele. Que falta de imaginação a minha!

                                                        "BOLO DE PRATA"

Ingredientes: 250 grs de farinha, 250 grs de açúcar, 125 grs de manteiga, 8 claras de ovos, uma colher de fermento, alguns miolos de nozes.
Misturar e bater, primeiro a manteiga e o açúcar, em seguida, à mistura, verter-lhe, a pouco e pouco, as claras, e, por último, acrescentar-lhe a farinha com o fermento.
Meter a massa resultante numa forma untada com manteiga, pôr-lhe umas nozes por cima e forno com ela.
Quanto tempo de forno? Aquele que for necessário, nem mais nem menos.
Apagar o forno, na hora, retirar-lhe a forma, deixá-la arrefecer, extorquir-lhe o bolo que lá se formou, colocá-lo num prato ou numa bandeja, à escolha, e cortá-lo em tantas fatias quantos os mirones assistentes, anciosos de lhe meterem o dente, salvo, naturalmente, se ele se destinar a alguma festarola caseira. Nesse caso é levá-lo inteiro para a mesa do repasto, para lá ser esfaqueado e consumido.
NOTA: Embora simples, modesto e, à vista, sem grandes atractivos, o "Bolo de Prata", que de prata só tem o nome, sempre foi o bolo da minha vida, desde jovem, adulto e velho, o meu estado actual. Há já anos que a Helena não se lembra de o fazer e eu, confesso, não me lembro de lhe o pedir. Entretanto a Teresa, filha, que era quem tinha o livro de receitas do bisavô quando o procurei (ela diz que eu lho tinha dado, que não o surripiou) já este século se arriscou a fazê-lo, uma vez, e saiu-se bem, ela que não é, propriamente, uma fan da culinária. Agradeci-lhe, e não me fiz rogado.
NOTA 2: Também a Sandra, uma jovem (a idade dá-me o privilégio de, sem favor e com sentido, assim a poder considerar) por nós contratada para, às segundas e quintas, aturar a nossa velhice, avançou com êxito para o dito, com alguns mimos da sua lavra e responsabilidade, que o adocicaram. Perdoei-lhe, a ela, e fui-me a ele.