15 de novembro de 2020

Ai, Manojas!

Não me conformo: Tenho 92 anos, nasci no século passado, em 1928, ano em que se começou a esboçar a ditadura militar que depressa deslisou para a ditadura civil que que veio a apadrinhar Salazar. Ditadura de perfil bem fascista que humilhou Portugal, nos condicionou, atrazou, diminuiu,o povo português, durante quarenta e tal anos, até ao 25 de Abril, de 1974. Estamos em 2020, vivemos há 46 anos em democracia, à Assembleia Nacional fascista, sucedeu a Assembleia da República,democrática. Para sempre? A verdade é que as últimas eleiçôes legislativas trouxeram para a Assembleia da República um pequeno partido, o Chega, que já pudemos classificar de,assumidamente,racista, xenófobo, violador dos direitos humanos,anti-democrático, que o infectou. Muito? Pouco? Certo é que a direita portuguesa, o maior partido, o PSD, já o namora, emparceirou com ele nos Açores, e dele vai desejar apoio para governar o pais. Acreditam? Acreditem e não estejam tão convencidos que a História não se repete (veremos ou, melhor, verão). Não, não me conformo, embora já pouco possa temer do futuro político, mas repugna-me ver sociais-democratas, eles assim se designam, a apertar as mãos a fascistas. Sim, é uma traição.

13 de novembro de 2020

Ainda o Manojas

Desculpem a insistência: O Rio, a Ferreira Leite e o Sarmento deviam era ter vergonha na cara. Para chegar ao poder nem tudo é aceitável fazer. Quando se critica o país por isto e por aquilo esquecem-se os 40 e tal anos de fascismo que lixaram, amarfanharam e estupidificaram o povo português, nós.

12 de novembro de 2020

Não é um regresso é um grito de alerta

O "respeitável" PSD emparceirou com o CHEGA, um partido da extrema-direita, xenófobo, racista, castrador, defensor da pena de morte, liderado por um fascista, que tenta arregimentar todos os saudosos do salazarismo e seus descendentes, justificando-se com o facto de também o PS se ter coligado com o PCP e o BE, mas esquecendo-se ou fingindo esquecer que o país sofreu, e muito, uma ditadura fascista de mais de 40 anos, e que foram os comunistas quem mais sofreu e mais combateu tal ditadura. É uma vergonha, uma canalhice, e, o futuro o dirá, um perigo, a defesa justificativa, que está a surgir, de alguns comentadores encapotados, e não só, do envolvimento dos social-democratas, se o são, com os fascistas.

11 de junho de 2020

Opinião (1)

Mário Centeno, economo-financeiro, doutorado, não político, depois de 1664 dias à frente das finanças do país, durante os quais cumpriu com êxito aquilo a que se teria obrigado (ele foi o nosso melhor ministro das finanças pós 25 de abril: fechou 2019 e orçamentou 2020 com saldos positivos, e foi eleito presidente do Eurogrupo), demitiu-se do governo, não aceitou a ida para deputado, para o qual tinha sido eleito, mandando-os, em espírito, (sabem a quem) àquela parte. Ele é filho de boa gente.

25 de maio de 2020

Os livros da minha vida (7)

Erico Veríssimo que foi o primeiro anfitrião, na sua prosa subtil e firme, apresentou-me “Clarissa”, arrastou-me para “Um lugar ao sol” e cativou-me com “Olhai os lírios do campo”. Depois, ao fazer uma pausa pensando mudar rumo esbarrei com “Terras do sem fim”. De quem? Outro brasileiro, Jorge Amado, um desconhecido. Peguei-lhe, folheei-o: a terra adubada com sangue, o cacau. Comecei a lê-lo e jamais parei. “Terras do sem fim”, pode ter sido superado, talvez por, “S. Jorge dos Ilhéus”, “Capitães da Areia”, “Gabriela, cravo e canela”, sei lá, mas a verdade é nunca o esqueci. É difícil esquecer o primeiro amor se lhe descobrirmos a alma. A alma de “Terras do sem fim”, um poema em prosa a abrir o capítulo, Gestação de cidades. Não resisto a transcrevê-lo: “Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas correrias, unidas nas gargalhadas. Lúcia, a das tranças; Violeta a dos olhos mortos; Maria, a mais moça das três. Era uma vez três irmãs, unidas no seu destino. Cortaram as tranças de Lúcia, cresceram seus seios redondos, suas coxas como colunas, morenas, cor de canela. Veio o patrão e a levou. Leito de cedro e penas, travesseiros, cobertores. Era uma vez três irmãs. Violeta abriu os olhos, seus seios eram pontudos, grandes nádegas em flor, ondas no caminhar. Veio o feitor e a levou. Cama de ferro e de crina, lençóis e a Virgem Maria. Era uma vez três irmãs. Maria, a mais moça das três, de seios bem pequeninos, de ventre liso e macio. Veio o patrão, não a quis. Veio o feitor, não a levou. Por último veio Pedro, trabalhador da fazenda. Cama de couro de vaca, sem lençol, sem cobertor, nem de cedro, nem de penas. Maria com seu amor. Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta., unidas nas gargalhadas, unidas nas correrias. Lúcia com o seu patrão, Violeta com seu feitor e Maria com seu amor. Era uma vez três irmãs, diversas no seu destino.Cresceram as tranças de Lúcia, caíram seus seios redondos, suas coxas como colunas, marcadas de roxas marcas. Num auto pela estrada cadê o patrão que se foi? Levou a cama de cedro, travesseiros, cobertores. Era uma vez três irmãs. Fechou os olhos Violeta com medo de olhar em torno: seus seios bambos de pele, um filho para amamentar. No seu cavalo alazão, o feitor partiu um dia, nunca mais há-de voltar. Cama de ferro se foi. Era uma vez três irmãs. Maria, a mais moça das três, foi com seu homem pró campo, prás plantações de cacau. Voltou do campo, era a mais velha das três. Pedro partiu um dia, não era patrão nem feitor, partiu num pobre caixão, deixou a cama de couro e Maria sem seu amor. Era uma vez três irmãs. Cadê as tranças de Lúcia, os seios de Violeta, cadê o amor de Maria? Era uma vez três irmãs numa casa de putas pobres. Unidas no sofrimento, unidas no desespero. Maria, Lúcia, Violeta, unidas no seu destino.” Veríssimo e Amado abriram-me, pois, forte apetite para a literatura brasileira, que se mostrou bem fornecida. Servi-me dela a contento como, sem ser exaustivo, posso revelar: “Subterrâneos da liberdade” , Jorge Amado; “Memórias póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis; “Obras poéticas”, Manuel Bandeira: “Os sertões”, Euclydes da Cunha; “O doente Molière“, Rubem Fonseca; Lavoura arcaica”, Raduan Nassar; “Morte e vida Severina”, João Cabral de Melo Neto; “Memórias do Cárcere”, Graciliano Ramos; “Água-mãe“, José Lins do Rego; Viva o povo brasileiro”, João Ubaldo Ribeiro; “Sagarana”, João Guimarães Rosa. Nunca fui ao Brasil, já não irei, mas gostaria de ter tido vontade de lá ir. Nunca Tive.

24 de maio de 2020

Ai, Jerónimo

Jerónimo de Sousa deu ontem uma entrevista ao Diário de Notícias. Não a li toda, mas dei-lhe uma vista de olhos, não por desconsideração, mas por cansaço. Uma frase do secretário-geral do PCP que o jornal estampou na primeira página chamou-me a atenção. Ela, aliás, não foi lá posta por acaso. A frase era: Está nas mãos do PS impedir que o governo caia. E a primeira pergunta que iria provocar tal frase era a seguinte: A 23 de março de 2011, o PCP votava ao lado do BE, PSD e CDS para chumbar o PEC IV. Seguiu-se a demissão do governo, o resgate e quatro anos e pouco de uma maioria de direita. Colocado perante um desafio semelhante, de ter de aprovar medidas de austeridade assinadas pelo actual governo, como irá o PCP reagir? Não é difícil perceber o que Jerónimo quis dizer, apesar duma argumentação muito rebuscada. Vangloriando-se da sua coerência, o PCP, sejam quais forem as consequências, está disposto a não impedir a queda do governo, caso este aprove medidas que o PCP desaprove.

Os livros da minha vida (6)

Nunca fui ao Brasil, já não irei, mas gostaria de ter tido vontade de lá ir. Nunca tive. A minha avó materna que ainda hoje não tenho a certeza se era portuguesa ou brasileira, casou duas vezes, a primeira com um brasileiro e a segunda com um português. Teve três filhas, uma do primeiro casamento e duas do segundo. A minha mãe era a filha mais nova. Tive dois bons amigos brasileiros, a Cremilda e o Hermano, ela era jornalista e ele realizador de cinema. Há trinta anos que pouco ou nada sei deles. Conhecemo-nos em Moscovo, durante o 13º Festival Internacional de Cinema de Moscovo, em 1983, que decorreu de 7 a 21 de julho, onde para além das delegações portuguesas e brasileiras, recordo as dos nossos irmãos de Angola e Moçambique. Foi lá, com alguns deles, certamente a Cremilda, o Hermano, e mais o Salvato, o coronel Augusto Silva, o Lima Duarte, o Luandino, o Mário e o Roque, que festejei o meu 55ª aniversário, no bar do Hotel Rossia, que entre os festivaleiros era conhecido como o bar da decadência, com caviar, do muito bom e vodka com laranja, de chorar por mais. Uma festarola de arromba. No ano seguinte a Cremilda veio a Portugal, a Lisboa, e a seguir foi a vez de Hermano, atraído pelo Festival Internacional de Cinema de Troia. Aquela Troia, onde há oitenta anos, não menos, aprendi a nadar à minha custa. Fomos lá, o meu tio e primos, uma bela manhã de verão, num pequeno pesqueiro, que se encostou ao único e modesto embarcadoiro que lá havia. Acto contínuo o meu primo mais velho, o Luís, atirou-me pela borda fora e saltou atrás de mim para me ajudar, se necessário. Mas consegui chegar à areia, à praia, por mim próprio. Uma vitória. À nossa espera só gaivotas a esvoaçar e piar. Bons tempos que já não voltam, não. E depois de Lisboa e Troia o oceano Atlântico, a vida, o tempo, interpôs-se, afastou-nos, nunca mais nos vimos. Nunca fui ao Brasil, já não irei, mas gostaria de ter tido vontade de lá ir. Nunca tive. A literatura brasileira foi a primeira, não portuguesa, que curiosamente abordei. A língua era a mesma, irmã da nossa. CONTINUA

23 de maio de 2020

Presidenciais (3)

Não sei se leram, mas eu li, o artigo de hoje de Pacheco Pereira, no Público. Estou de acordo quando ele avisa que há que ter cuidado com os segundos mandatos presidenciais, subentendendo que o exercício de poder do Presidente, de Marcelo, já não dependerá de considerações de cálculo eleitoral, e de acordo também considerar uma estupidez a direita ser contra Marcelo. Mas em desacordo absoluto, ser uma estupidez a esquerda, em particular o PS, ser a favor. Para o PS, ser contra, resultaria numa derrota eleitoral, quase de certeza, e para o PSD, que logo mudaria de postura, uma vitória que bem o poderia leva ao poder com brevidade. Para o PS, nesta situação, ser a favor de Marcelo é também e principalmente ser a favor de si próprio, pois está a provar que a sua prioridade é a estabilidade do país.

20 de maio de 2020

Presidenciais (2)

Manuel Alegre também discordou das declarações futuristas do primeiro ministro sobre o PR, e então, como bom socialista, logo correu para os jornais denunciando António Costa. Agora vai falar com Ana Gomes, não para lhe dizer que vota nela, porque o PS pode ainda vir a ter outro candidato melhor, mas combinar se vão ambos pedir a destituição por este não respeitar as regras do PS e lhes chamar parvos. Será que Manuel Alegre e Ana Gomes não conseguem compreender que o que o político António Costa fez foi fazer política? Costa sabe que o PS não tem candidato para vencer Marcelo, por isso descartou a ideia, sabe que antecipando-se ao PSD e ao CDS os desarmou, sabe que com o bom relacionamento que tem havido com o PR está fortalecer-se a si, ao governo e ao PS, sabe que está a declarar ao país que é a estabilidade do país a sua prioridade. Por favor, digam que não tenho razão e expliquem o que diabo andam a pensar, o que diabo andam a querer fazer, que não é o protagonismo o que os move.

Os livros da minha vida (5)

Tenho três escritores portugueses de ficção e três de não-ficção em lugares de honra na minha memória: Camilo, Aquilino e Saramago, Vasco e Vitorino (ambos Magalhães), e Helder Macedo. Sou um leitor compulsivo, já o tenho dito e repetido, não se vão os meus leitores (?) esquecer, mas presentemente, já leio pouco, mas quando, sorrateiro, o apetite me surpreende, é para eles, para o passado que me volto. O futuro já não me tenta e o presente é o que é. Tenho à volta de três mil livros espalhados pela casa, já foram mais, e não são todos, já se vê, de origem pátria. Esses outros os identificarei mais tarde, se o destino o permitir. Perguntar-me-ão: leu-os todos? Cada um deles, integralmente, nem a mim próprio o juro. Mas em todos peguei, folheei, consultei, avaliei, sim. Não é o primeiro, não foi o último, nem fazia parte da camiliana que o meu avô me deixou. Não é dos mais badalados, não é uma obra-prima, alguns dos meus leitores, se algum tiver, nunca dele terão ouvido falar. Encontrei-o por mero acaso, chama-se, “Maria da Fonte”. Foi o nome, antes do de Camilo, que me despertou. Passo, melhor dizendo passava, que a idade não perdoa, todos os dias, pela figura dessa mulher, evocada em estátua no jardim oficialmente baptizado de Teófilo Braga, mas por todos conhecido por Jardim da Parada, centro do bairro de Campo de Ourique. Na sua folha de rosto pode ler-se que o livro foi escrito “a propósito dos Apontamentos para a História de Revolução do Minho em 1846, publicados recentemente pelo reverendo padre Casimiro celebrado chefe da insurreição popular”. É uma biografia, ao contrário da intenção inicial do autor, mais histórica que romanceada, centrada numa mulher conhecida por Maria da Fonte e na sua acção revoltosa ao tempo da chamada guerra da Patuleia. A quem alie o prazer de uma boa prosa à curiosidade histórica, aconselho a ler o “Maria da Fonte”, se é que ainda é necessário aconselhar alguém a ler um livro de Camilo Castelo Branco. À excepção de Camilo, eram todos do meu tempo, embora mais velhos. Sou o sobrevivente. Pessoalmente, só conheci Saramago. Conheci-o muito antes do 25 de abril, muito antes da sua celebridade, sem intimidade. Fazíamos ambos parte de um grupo de incipientes jogadores de ténis que nas manhãs dos fins de semana se reuniam no Estádio Nacional para bater nas bolas o melhor que sabiam. Eu era dos mais e ele dos menos assíduos. Depois da Revolução encontrámo-nos meia dúzia de vezes, num ou noutro evento. Estávamos ambos do mesmo lado da barricada. E foi logo em 1975, quando li o seu poema em prosa, “O ano de 1993”, que me tornei admirador incondicional da sua escrita. Até hoje, até ao “Último caderno de Lanzarote”. Sei quem torça o nariz à sua obra, mesmo depois do Nobel, porventura ainda mais devido a ele, por razões político-ideológicas, por iliteracia, por mera inveja, e também pelas vírgulas. Não esqueço uma viagem à Escandinávia onde, já não sei se na Noruega ou na Suécia, ao interpelar a guia, pelo facto de ao falar dos prémios Nobel nunca mencionar Saramago, ela explicar-me que tal atitude era devida a que a referência ao escritor nem sempre era recebida com simpatia por alguns visitantes portugueses. Espantoso, não? Não tenho as obras completas de qualquer um dos seis, mas de certeza tenho os mais importantes livros de cada um deles, e mais alguns. Seria despropositado citá-los a todos, vou apenas escolher dois de cada um deles, os que pela beleza e rigor da escrita, pelo valor e sugestão dos temas, mais me cativaram: De Camilo Castelo Branco, “Memórias do cárcere” (1862) e “O sangue” (1868); de Aquilino Ribeiro, “A casa grande de Romarigães” (1957) e “Quando os lobos uivam” (1958); de José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira” (1995) e “Todos os nomes” (1997). De Vasco de Magalhães-Vilhena, “O problema de Sócrates” (1952) e “António Sérgio , o idealismo crítico e a crise da ideologia burguesa” (1964); de Vitorino Magalhães Godinho, “A crise da História e as suas novas directrizes” (1947) e “A expansão quatrocentista portuguesa” (2ª edição, 2008); de Helder Macedo, “Camões e a viagem iniciática” (2013) e “Camões e outros contemporâneos” (2017). A publicação do livro sobre António Sérgio, de Magalhães-Vilhena, levantou grande polémica, com algumas vozes desagradadas. Julgo que tal até lhe foi favorável, deu-lhe valor e importância. É na minha modesta opinião um estudo de grande profundidade e inteligência, que confirma o alto nível intelectual e filosófico do autor. A mim obrigou-me a reler os ensaios de Sérgio, o que ainda hoje não, não é, uma perca de tempo. Nunca será, pelo contrário. Para terminar, para quem estiver interessado no tema, aconselho a leitura de dois artigos publicados na muito saudosa Seara Nova: “Para a revalorização crítica da cultura nacional”, de Rogério Fernandes – Seara Nova, nº 1435, de maio de 1965. “Homenagem a Sérgio”, de Victor de Sá – Seara Nova, nº 1441, de novembro de 1965.

19 de maio de 2020

Presidenciais

Gostaria de perguntar a Ana Gomes, ex-deputada europeia e militante do PS, o que pensa ela defender ao atacar António Costa e Ferro Rodrigues pelas declarações relativas ao PR e insurgir-se contra Carlos César por marcar o Congresso do PS para depois das presidenciais. Não será ela que está a tomar por parvos os seus camaradas quando pensa candidatar-se à presidência pelo PS contra Marcelo, com o apoio, já declarado, de Francisco Assis, certamente que haverá outros parecidos, que votou no Seguro contra o Costa, que quer um PS de costas voltadas para a outra esquerda e de braço dado com o PSD? Eu nunca votei Marcelo, porque não esqueço o seu passado de direita, do seu passado de comentador da TV, mas apesar de todas as reticências que se lhe possam apontar tem tido uma acção bem positiva como PR, tem-se dado relativamente bem com o governo PS e tem o povo consigo. Mas que diabo pensa Ana Gomes que está a defender? Ainda há muito tempo, ainda vai correr muita tinta, mas se nada de muito extraordinário ocorrer, sendo eu de esquerda, mas não militante partidário, o meu parecer é, vote eu ou não nele, votar Marcelo.

17 de maio de 2020

Os livros da minha vida (4)

Permitam-se-me umas passadas em frente, fugindo ao passado mais fundo que tenho vindo a recordar para me aproximar do mais actual. Para quê? Para lembrar livros da minha autoria, que, verdadeiramente, são os que mais considero como os livros da minha vida. Não terei razão? Penso que sim, mas uma coisa é certa, independentemente do seu real valor, se algum têm, gosto muito deles, são à, ou da, minha medida. Sim, irei aos livros, mas, no entanto, vou primeiro às traduções dos que traduzi, labor que muito me ajudou a preencher o vazio dos dias vazios que a reforma me deixou. Não são meus, mas ao revesti-los com o meu português, passaram a ter muito de mim. Cito-os: “Espionagem e contra-espionagem numa guerra peninsular (1640-1668)”, de Fernando Cortés Cortés (Livros Horizonte); “Guerra e pressão militar nas terras de fronteira (1640-1668)”, de Fernando Cortés Cortés (Livros Horizonte); “Lisboa, mítica e literária”, de Ángel Crespo (Livros Horizonte); “Cartas de Lisboa (1822)”, de José Pecchio (Livros Horizonte); “História de Espanha”, de Pierre Vilar (Livros Horizonte); “Manual do estudante eficiente”, de Francisco José Montes (Livros Horizonte); “Rosebud, fragmentos de biografias”, de Pierre Assouline (Bertrand Editora); “O ressentimento na História”, de Marco Ferro (não editado) Deles, permito-me destacar o de Ángel Crespo, poeta, ensaísta, tradutor, grande amigo e conhecedor da literatura portuguesa, em particular de Fernando Pessoa, sobra o qual muito escreveu. Porquê? Já lá vamos. Ángel Crespo veio a Portuga, a Lisboa, cidade que ele amava (e nós amamos), da qual fala, com sentido histórico, desde a conquista aos mouros à actualidade republicana (o livro é de 1987), e ao longo da qual passeia e se extasia, classificando-a de cidade mágica e poética que muito tem influído na génese e desenvolvimento da civilização ocidental, ele veio a Portugal, a Lisboa, repito, à apresentação do livro, tendo tido a amabilidade de me oferecer um exemplar com a seguinte dedicatória: Para Manuel José Trindade Loureiro, coautor de este texto en uma magnífica traducción portuguese, com la admiracion y el agradecimento de Ángel Crespo. Como esquecê-lo? Enfim, todos temos as nossas vaidades. Ao meu primeiro texto que virou livro, cuja edição, de autor, destinei, não ao mercado, mas para ofertar familiares e amigos, dei o título de “CHANDLER & MARLOWE”, e expliquei: Chandler, de primeiro nome Raymond, e Marlowe, de primeiro nome Philip, são uma dupla famosa. O primeiro, escritor e, como tal, um dos grandes nomes da literatura policial americana e mundial, e o segundo, criatura nascida da imaginação do primeiro, protagonista-narrador de todos os seus romances, modelo acabado do herói-detective, solitário, integro, homem de honra e de consciência. E informei: o argumento baseia-se, em parte, no facto de eu ter considerado Marlowe não uma criação literária de Chandler, mas sim uma pessoa real, com a profissão de detective Havia indícios a creditar tal suposição, vindos do próprio Chandler, assim o entendi, ao ler respostas suas às cartas de quem o questionava sobre a vida do detective, e avaliar os dados que sobre ele ia revelando ao longo dos romances. No primeiro que iniciou a série, e a celebrizou, “Á beira do abismo”, de 1938, o próprio Marlowe revela ter 33 anos. Assim sendo, que teria nascido em 1905, bem posso afirmar que o livro não só homenageia Raymond Chandler como recorda e celebra o centenário do nascimento de Philip Marlowe. O segundo, mantendo o mesmo padrão, o de oferta a familiares e amigos, é um livro de pequenas memórias, “CONTOS DO (MEU) ENTARDECER”, de contos todos eles baseados em factos reais por mim vividos (com a excepção do último), em que a ficção é apenas de pormenor. O terceiro, com um título bem longo e explicito, “O FANTÁSTICO, A FICÇÃO CIENTÍFICA, & GÉNEROS AFINS NA NOVELÍSTICA PORTUGUESA (cronologia e antologia / séculos XIX e XX), e o mesmo princípio editorial. Outros textos, sim, há mais, mas não editados e por isso engavetados. Ei-los: “Chandler & Marlowe” (2ª edição, revista e aumentada) “Contos do (meu) entardecer” (2ª edição, revista e aumentada) “Teatro esquecido” “Escritos” “Memórias” “Literatura Policial Moderna” “Para a Literatura Policial Portuguesa que um dia alguém há-de escrever” É TUDO, E NÃO É POUCO, PARA UM MODESTO AMADOR COMO EU.

16 de maio de 2020

O Novo Banco e o empréstimo

Quem sou eu para me arrojar a comentar tal assunto, mas não posso deixar de aplaudir o modelar artigo, no jornal Público de hoje, da jornalista São José Almeida, e nem sempre estou de acordo com as suas  tomadas de posição. O ministro de Estado e Finanças ao autorizar  o que autorizou cumpriu a sua obrigação e a do Estado, e ponto final. E todos os que deviam saber, sabiam ou tinham a obrigação de saber, que tal empréstimo devia e tinha de ser feito. Agora, e desculpem-me a dúvida, o que não se sabe, mas alguém saberá, é se a crise resultante foi provocada ou, calculadamente, deixada acontecer, e porquê ou para quê. Mário Centeno tem as costas largas, bem largas, suficientemente largas, para suportar tais crises, se for oportuno, ou que o não seja, e sabe-o. E depois, face ao grave momento que atravessamos, quem está disposto a ser responsável pela saída de Centeno do governo, mesmo de apoiar ou sugerir tal coisa?  Rui Rio, talvez, mas ele nem sempre se tem mostrado muito clarividente, a Mortágua, é jovem e pouco tem a perder, e o Presidente às vezes fala de mais, mas não é por mal, é por feitio.

15 de maio de 2020

Aniversários

Os aniversariantes foram três e o Manojas esperou que cada um deles fizesse anos para os felicitar em conjunto.. O Manuel, filho, fez no dia 1, a Beatriz, neta, fez no dia 11, e a Teresa, filha, fez hoje, dia 15. Parabéns então aos três, um parabéns colectivo. Mas o Manojas acha que também merecem parabéns os pais deles, da Teresa e do Manuel, e os avós dela, da Beatriz, pelos belos filhos e neta  que lhes saiu em sorte.  Parabéns pois à Helena e ao Manuel. E viva o mês de Maio.

14 de maio de 2020

Dos livros da minha vida (3)


Volto atrás, ao meu tempo de estudante liceal na Escola Pedro Nunes, onde o meu professor de História, foi Jorge Borges de Macedo. Foi, aliás, na Escola Pedro Nunes, que Jorge de Macedo começou a leccionar, salvo erro em 1945.  Recordo a primeira aula em que se nos apresentou. Excitado, nervoso, falava e andava de um lado para o outro de tal maneira que o ponteiro que brandia na mão se lhe escapou e saiu pela janela, caindo na rua, por sorte não atingindo ninguém pois ninguém ia passar. Nós gargalhámos e ele, correndo a espreitar, gemeu: Ó diabo!
Tivemos um bom relacionamento que superou o de simples professor/aluno, aluno/professor, visto que morávamos muito perto e saíamos e seguíamos muitas vezes juntos, para o almoço, no intervalo das aulas, e à tarde, no fim das mesmas. Muitas vezes o visitei, a seu convite, tendo conhecido a esposa e os três filhos. Nesses dias falávamos muito, ele principalmente, orientando, aconselhando, comentando, sobre o estudo, a escola, o país, os livros a ler, e não só os de estudo, até o cinema a ver. Foi, aliás, através dele que me fiz sócio do Círculo de Cinema, um cineclube cujas sessões se efetuavam aos domingos de manhã, às 11 horas, no teatro Capitólio, no Parque Mayer. O Círculo, que nunca conseguiu a sua legalização, acabou por ser proibido, depois da sua sede ser assaltada uma noite pela PIDE, que deteve quem lá estava. Safei-me de ser engavetado, por uma unha negra. Por vezes passava por lá, mas tinha saído meia hora antes do ataque.
E cá vou aos livros.  Foi ele que me deu a conhecer e ler, em edição brasileira, o emblemático “A Mãe”, de Máximo Gorki, o “O Don Tranquilo”, uma saga sobre o povo cossaco, e “Terras desbravadas”, sobre o coletivismo no Don, ambos de Mikhail Cholokhov, escritor que viria a obter o Nobel, em 1965, “pelo poder artístico e integridade com a qual no seu épico do Don conferia expansão a uma fase histórica da vida do povo russo”,  e me abriu o apetite para a literatura russa e soviética, embora eu já tivesse lido, da primeira, de Leão Tolstoi, “Infância” e “Adolescência”, ofertas aniversariantes do meu avô, e tivesse na estante, à minha espera, o monumental “Guerra e Paz”. Depois, ao longo do tempo, e também já por minha iniciativa, muitos outros, dos quais destaco, da segunda, que também é russa, mesmo não sendo, sei lá, os de maior valor literário, e tão tematicamente diferentes, mas sobremaneira me cativaram, empolgaram. “Margarita e o Mestre”, de Mikhail Bulgákov, e a trilogia, “Os vivos e os mortos”, “Não se nasce soldado”, O último verão”, de Konstantin Simonov.
Bulgákov, romancista, contista, dramaturgo, que não sendo um escritor de ficção científica não poucas vezes a ela recorreu, como também ao fantástico e ao diabólico, tornando mais ácidas e inquietantes as suas sátiras sociais. “Margarita e o Mestre” é, sem dúvida, uma sátira social, mas que engloba, igualmente, sátira política e alegoria religiosa. Um romance de humor negro que elogia a bondade e condena a cobardia, e que apela à compreensão do leitor para as peripécias, ora divertidas ora aterradoras, inesperadas, que o compõem. Um livro ,único, inclassificável, que o autor começou a escrever em 1928 e não mais largou até à sua morte em 1940, quatro semanas depois de ter preparado uma quarta versão. Só em 1973 foi publicada em Moscovo uma versão integral.
Konstantin Simonov, poeta, romancista, dramaturgo, correspondente de guerra, um dos mais galardoados escritores da literatura de ficção, sendo a trilogia que atrás citei, que abarca toda a guerra contra os invasores nazis, até à batalha de Berlim e à vitória final, uma obra de grande fôlego, implacável no traçar da brutalidade da guerra, minuciosa na descrição do perfil das personagens que a povoam: no carácter, nos sentimentos, na alma.  
A minha convicção da militância de esquerda do meu professor, só me foi revelada e confirmada quando sua mulher me veio avisar da sua detenção pela PIDE, e se eu tinha alguma coisa dele. Não tinha, mas fiquei bem apreensivo, mesmo assustado.
Depois do acontecido só voltámos a ver-nos mais duas vezes, espaçadas no tempo, meses a primeira, anos a segunda.  Um inesperado encontro num transporte público, no carro elétrico, talvez no 28, não estou certo, onde nos reconhecemos, cumprimentámos, mas quase nada conseguimos dizer um ao outro, até que, para mim sem propósito e entendimento, falando alto como se estivesse a dar uma aula, ele declarou a sua grande admiração por Winston Churchill. Ele era já outro, arrepiara caminho, mudara de crença, já não acreditava no que creditara, ou não estaria em liberdade. Eu, aliás, já há algum tempo o sabia. O segundo, em uma das sessões de um curso sobre literatura poética, promovido por David Mourão-Ferreira, a decorrer na SNAB. Ele estava lá, vi-o, mas ele não ou não quis, assim me pareceu. Mas a uma brevíssima intervenção minha, respondendo a uma pergunta lançada à assistência por Mourão-Ferreira, Borges de Macedo, com um meio sorriso e uma rápida olhadela na minha direção, levantou-se para, com algum calor, me contradizer. Ele, afinal, sempre me vira e reconhecera, estou certo. Não repliquei, não lhe fiz a vontade, para mim evidente, e o assunto morreu. 



10 de maio de 2020

Dos livros da minha vida (2)


Fiz o meu curso liceal não no liceu oficial, mas num colégio particular, na Escola Pedro Nunes, não no liceu do mesmo nome. A escola era mais perto de casa, menos agitada, mais controlável. Por razões que não vêm ao caso, eu era um infante muito vigiado, os meus avós estavam sempre de olho em mim, na minha saúde. A imposição foi logo que eu não podia jogar futebol, salvo, vá lá, a guarda-redes. Uma seca!
O director da escola era o dr. Castanheira, baixote, bastante redondo, firme, sério, bem educado, bom republicano. Era ele que leccionava o Português e o Latim. Quando para lá entrei, para o 1º ano, ainda era lá professor António Sérgio. Penso, mas não juro, que a História e a Literatura eram com ele, mas, claro, para os do 6º e 7º. Pensar que eu ainda o podia apanhar, era ilusório. Aliás, foi-se embora no ano seguinte, afastado por impostas razões políticas. Vivia-se, então, em plena ditadura salazarista, dura e aviltante, que não perdoava, e Sérgio era, declaradamente, anti-regime. Mas ainda tive ocasião de assistir a uma palestra sua, sobre Eça de Queiroz. Sendo sobre quem era e  sendo quem era o orador, eu não a podia perder. Fiz e fez-me bem.
E cá estou a chegar aos livros, embora, confesso, quando iniciei esta segunda volta ao passado, o meu objectivo não eram, para já, os romances queirozianos.
Eu já começara a ler Eça, mas demasiado cedo e sem apoio, como viria a lamentar. Mas eles estavam à minha inteira disposição, todos, na estante aberta do meu avô. E não começara pela “A cidade e as serras”, o título não me atraíra, mas por “A Relíquia”, uma 4ª edição de 1904, em que o autor, sarcástico e malicioso, nos descrevia, através do próprio, as aventuras do jovem Teodorico, irrequieto e libidinoso, e a tacanhez e beatices da sua Titi, a severa e intratável Dona Patrocínio.  Algo confuso pelas inesperadas e surpreendentes situações e apreciações relatadas, mas também divertido e muito curioso, avancei de seguida para  “O Primo Basílio”, e, interdito e consternado, soube dos amores pecaminosos, adúlteros, do jovem peralvilho Basílio, fútil, falso, irresponsável, e rico, com a ingénua, inocente e imprevidente burguesinha Luisa, sua prima, e da revoltante chantagem da despeitada e entediada Juliana, sua criada. Devia ter feito uma pausa, mas, como que atraído pelo abismo, não resisti e bisbilhotei “O crime do Padre Amaro”, o seu assédio sôfrego, consentido e desejado, à jovem e ansiosa Amélia, e as consequências trágicas daí  resultantes. E por aí me fiquei, enfim, inevitavelmente chocado.
Ingénuo, solitário, pouco vivido, pouco relacionado, metido comigo, eu que aceitara sem esforço o romantismo crítico de Camilo, e me empenhara em seguir a sua linguagem primorosa e invulgar, revelei não estar preparado para enfrentar o implacável realismo de Eça, para entender as suas acutilantes e certeiras críticas à vida, à sociedade portuguesa, de então.    
Cresci, redimi-me, e desculpei-me, a mim. Fosse como fosse, enfrentara, sem desistir, a fase em que Eça terá sido mais duro e intencional nas descrições dos seus textos.  Agradei-me, então, com “A cidade e as serras”, “A ilustre casa de Ramires”, “O Conde de Abranhos”, a sua reconhecida obra-prima, ”Os Maias”, e não descurei, até, “A Tragédia da Rua das Flores”.
Ah, sim, depois do assédio, do crime, do adultério e de tudo o mais, o incesto, mas dessa tardia e trágica surpresa só o imprevisível e implacável destino era o responsável, ao ter engendrado o inesperado encontro entre os dois irmãos que não se sabiam, a Maria Eduarda e o Carlos Eduardo, mas que sendo quem eram, o que eram, e como eram, naturalmente se sentiriam, como sentiram, atraídos um pelo outro.
E por agora, é tudo, mas vou continuar.

3 de maio de 2020

Dos livros da minha vida (1)

Esta praga que desabou sobre nós, tem-me tolhido demasiado, o pensar, o falar. o fazer, o agir, o prazer do dia a dia da vida, fazendo-me, teimosamente, esquecer que continua a haver muito mais vida para além da insidiosa pandemia.  Inesperadamente, foi a leitura, não ocasional, do blogue "duas ou três coisas", do embaixador Seixas da Costa, onde durante alguns dias foi ele revelando e mostrando a capa de alguns dos livros que tiveram importância em algumas fases da sua vida, que me fez libertar um pouco da apatia que me tem envolvido. Ora, os livros sempre foram dos mais  próximos, firmes e importantes companheiros da minha vida. Assim, pois, também eu, sacudindo a mente, resolvi desafiar-me a referenciar alguns dos livros da minha vida, sejam todos eles ou não, os escolhidos, "os livros da minha vida". Conseguirei ainda fazê-lo? Veremos.
Confesso que nunca li o primeiro livro que o embaixador foi buscar ao passado e recordou ter lido, tinha então dez anos: "Platero e eu". Um livro poético, publicado em 1914, que descreve a vida e morte dum burrito de estimação chamado Platero, da autoria do escritor Juan Ramón Jiménez, que foi Nobel em 1956. Eu, que sou uns anos mais velho que o embaixador, não muitos, apenas vinte, quando fiz dez anos recebi do meu avô dois livros: "Memórias de um burro" (também um burro, que curiosa coincidência), publicado em 1860, da Condessa de Ségur, e "As aventuras de Polichinélo", publicado em 1883, de Carlo Collodi. Não sei qual o primeiro a que me agarrei, tanto tempo passado, mas recordo a história daquele boneco de pau que virou menino de carne e osso, cujo nome original, italiano, era Pinóquio, e de seu pai, e da lição que recebi daquele burro, chamado Cadichon, sobre a amizade e o respeito a ter pelos animais. Ele, aquele burro nada burro, já que dele falo, faz-me recordar uma vagarosa e balançada viagem de burro, de cerca de 15 quilómetros, da estação de caminho de ferro das Caldas da Rainha até à aldeia dos Vidais, onde passei algumas férias e onde brinquei e me relacionei com aquela que, (não, ninguém podia, então, tal imaginar), viria a ser a mulher da minha vida, a Helena.
Mas algum desconforto pelo que acabo de contar, obrigou-me a puxar mais pela memória, que já não é bem aquilo que era. Pois não, na viagem a que atrás me referi, fiz muitas outras, das Caldas para os Vidais e vice-versa, não era eu que ia no burro, era a Helena. Ela, antes de ir para a sua aldeia dos Vidais passar as férias, tinha ido gozar uns dias de praia, para casa de uma família amiga. Fomos então buscá-la ao combóio, levando o burro que ela montou, tendo eu feito o regresso a pé. Ela tinha uns dez anos e eu quinze ou dezasseis. Só não me consigo lembrar é do nome do burro, de certeza que o tinha, nem de quem ele era.
O´Helena, o burro seria do Zé das Vacas?

26 de abril de 2020

Abril

25 de Abril, sempre. Fascismo nunca mais. O povo unido nunca mais será vencido. Portugal, Portugal, Portugal

17 de abril de 2020

Desabafo 2

Não é um sermão encomendado, é um desabafo algo controverso, mas que considero justo e oportuno. O coronavírus, a insidiosa e traiçoeira epidemia, invadiu o nosso país e houve que enfrentá-lo. Encabeçando a imprescindível defesa, como lhes era devido, mesmo obrigatório, o Presidente da República e o Primeiro Ministro. Sem terem sido, sem serem,  naturalmente perfeitos, na presença, na atitude, na actuação, nos apelos, nas soluções, nas imposições, Sei lá!,  (são seres humanos, não esqueçamos) , aceito que houvesse, que haja, quem os pudesse igualar, mas não quem em muito os pudesse superar. O país, Portugal, na situação actual, teve e tem sorte em ter tido e ainda ter, tais estadistas, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, nos lugares que ocupam. Acredito que o futuro o confirmará. 

16 de abril de 2020

Vivo

Sim, ainda estou vivo, mas já com pouca energia e inspiração para me enfiar na pele do Manojas. Depois duma ditadura (a salazarista), duma guerra (a segunda grande guerra), duma revolução (a do 25 de Abril) e de tudo o mais o que a vida me ofereceu, além de já ter passado a barreira dos noventa, eis-me perante uma epidemia mundial (a coronavirus), insidiosa, traiçoeira. É obra! Mas não, não vou, não vamos desistir, e acredito muito que a vamos vencer. Como se venceu a ditadura, se venceu a guerra, se ganhou a revolução.

18 de janeiro de 2020

Recordação

Eu e a Helena fazemos hoje, melhor, fizemos hoje, dia 18 de Janeiro de 2020, 62 anos de casados,  melhor dito, de bem casados. Não é um recorde, mas é uma boa classificação que merece  ser celebrada, mas sem espavento como é nosso timbre. Vamos almoçar fora, emendo, fomos almoçar fora, e para o jantar, em casa, comprei uma garrafa de espumante Murganheira, doce,
porque a Helena é desse que mais gosta, para acompanhar qualquer petisco que a citada noiva tenha preparado. É tudo, e até para o ano se ...

A guerra dos drones

Todas as sextas-feiras o semanário Ipsilon, suplemento do jornal Público, é valorizado com textos de António Guerreiro, sempre inteligentes e oportunos, embora por vezes algo herméticos. Não é o caso do artigo de ontem, bem claro: "A guerra dos drones". A guerra dos drones, aquela em que os EUA se armaram em "terroristas de Estado", fazendo de alguns dos seus soldados: assassinos. Eles matam, à distância, sem perigo, pelas costas, em jeito de caça, sentados às suas secretárias de tele-operadores, apenas carregando num botão.                                                                                                                  No artigo, António Guerreiro, menciona dois autores que se debruçaram sobre o tema "drones": o filósofo francês Grégoire Chamayou e o filósofo americano Michael Walzer. O primeiro, com o livro "Théorie du drone", que ele cita, e o segundo com o livro, que não é referido, que se chama, em edição francesa, "Guerres justes e injustes". Pena que António Guerreiro não tenha referenciado, também, o livro , "O mal que deploramos: o drone, o terror e os assassinatos-alvo", de José Sócrates, de 2017, da Sextante Editora, que, além do mais, muito mais,  contem uma extensa bibliografia sobre o tema.

8 de janeiro de 2020

Anormal

Já o disse algures, mas vou repeti-lo aqui: Embora encapotados, pelos vistos e não vistos, nunca pensei que Trump tivesse tantos admiradores. Até onde irá ele? Até onde o deixarão ir?

6 de janeiro de 2020

ANORMAL

Não, não é todos os dias, mas hoje, o editorial do jornal Público, é muito de aplaudir. Na verdade não é normal, é, sim, incrivelmente anormal, que o presidente de um país democrático se vanglorie, publicamente, de ter mandado assassinar um dirigente, seja ele quem for, de outro país, o qual estava, a demais, de visita a um país terceiro. Na verdade, o presidente da nação mais poderosa do mundo, assim são considerados os EUA, declarou, com alarve orgulho, nas redes sociais, ser um assassino confesso, dado ter mandado matar, por isto e por aquilo, um tal Qassem Soleimani, general do Irão, personagem de grande prestígio, no Médio Oriente. E qual foi a reacção, em particular dos dirigentes políticos dos diferentes  países, perante um acto que fragiliza os princípios que devem vigorar nas relações entre países e povos. Não condenação, repúdio, firme desagrado, mas declarações de circunstância, assobios para o ar, encolher de ombros. Na verdade, como esquecer que Donald Trump é o homem mais poderoso do mundo? Ele assim se julga: América, first!

O. E. 2020

Sim, é o Manojas, sou eu! Não sei ainda se para continuar, ou apenas para um pequeno apontamento. Os anos pesam. A ver vamos.                                                                                                                    Não me sinto muito habilitado para especulações sobre o Orçamento de Estado apresentado pelo actual Governo, apoiado pelo PS, acredito-o, simplesmente, muito equilibrado, e aguardo com esperança que BE., PCP, Verdes, PAN, e Livre, o votem a favor, na generalidade, para, na especialidade, convencerem o Governo, sem excessos, a ir mais além, a arriscar mais, a ser mais ambicioso. Não parece nada impossível.                                                                                                  A direita parlamentar, estou certo, vai votar contra, é o seu papel, embora o PSD do Rui Rio possa considerar, vagamente, a abstenção. O do populista  Montenegro seria, naturalmente, sempre contra.  O chumbo do Orçamento levaria a novas eleições, penso, daqui a uns meses, o que não seria nada bom para o país, mesmo que as mesmas não favorecessem os responsáveis. Mas nada é certo, e o populismo está à espreita. Sim, o populismo está à espreita, de erros políticos e, naturalmente, que os ricos abram os cordões à bolsa. É o dinheiro que o alimenta e faz crescer.                                     Aguardemos!