20 de agosto de 2022

Para a História da Literatura Policial Portuguesa que um dia alguém há-de escrever - 25

                                                         EM GUISA DE CONCLUSÃO                                                   Obviamente, não li todos os títulos registados (contos, folhetins, relatos, romances), e alguns que li, filo de través, mas, para tirar dúvidas, não descurei a consulta a pareceres e recensões críticas. No entanto, algumas ou muitas das escolhas feitas para o fim em vista, não foram particularmente difíceis, dado que a maior parte destes textos surgem integrados em colecções que se assumem como albergando histórias de crime, de mistério, de terror, de espionagem, de aventuras, identificadas como pertencendo, com maior ou menor legitimidade, ao universo do policial, enquanto outros, embora fora de tais colecções, os próprios editores e autores, até pelos títulos escolhidos, logo os perfilam perto ou dentro desse mesmo universo. E um ou outro deve unicamente a sua presença ao meu entendimento e justificação - que sou quem os selecciona - como é o caso do romance, Todos os nomes, de José Saramago.                                                              No início fiz uma destrinça, que me pareceu pertinente, entre literatura pré-policial e literatura policial. Mas há outra que me parece importante e justo fazer. É a destrinça entre autores que assumem a pertença e contribuem para a existência de um género policial português ou à portuguesa, a maioria, e autores que, episodicamente, intencionalmente ou não, utilizam algumas ferramentas do género policial, género de maior e mais fácil apetência popular, o que eventualmente, lhes pode proporcionar uma muito maior audiência, para temas que denunciam situações de natureza política e ou social, do presente ou do passado histórico. São disso exemplos, exemplares, no primeiro caso, aqueles que menciono no capítulo que identifico como autores/cultores da literatura policial portuguesa, e, no segundo caso, autores como, Jorge Reis, com o Matai-vos uns aos outros, José Cardoso Pires, com Balada da praia dos cães, Clara Pinto Correia, e o Adeus princesa, ou Hugo Santos, com A morte do professor. Destes, só o romance de Jorge Reis é anterior ao 25 de abril, o que lhe valeu a interdição, provavelmente,  mais por ser de quem era do que pelo próprio texto, pois a censura salazarista pouco incomodou a ficção policial, por ignorância, talvez, mas também devido à precavida auto censura praticada por autores,  editores e tradutores para que tal se verificasse.    E é em jeito de enquadramento cultural, político, social, que no fim de cada ano registo e faço referência a algumas publicações de outros géneros literários e a alguns acontecimentos relevantes da vida do país.                                        Não se pode acusar o universo da ficção policial portuguesa de nada nos ter oferecido de relevante durante estas  primeiros 20 anos do novo século   Surgiram novos autores, embora não muitos, dos que possam ser considerados, verdadeiramente, cultores da literatura policial. e dos antigos, alguns ainda continuam activos. A escassez, no entanto, real, não a ignorei, e por isso o suporte dado, referenciando também obras de alguma proximidade, intencional ou não, ao género policial, desses e doutros autores. Dos primeiros, o destaque, merecido, vai para Pedro Garcia Rosado, autor de 10 romances policiais, não do estilo clássico, mas verdadeiros thrillers de inspiração norte-americana, mas bem inseridos na realidade portuguesa, acompanhado pelo versátil Francisco Moita Flores, com sua vasta experiência de criminalista, por Rui Araújo e o seu provocador estilo de jornalista, pelo imprevisível e sarcástico Miguel Miranda, pelo malogrado Luís Miguel Rocha, por Nuno Nepomuceno, fantasioso e desmedido. Dos antigos, saúde-se o conto longo ou pequeno romance, póstumo, de McShade, ele é o inesquecível Dinis Machado, o regresso, certamente episódico, de Rusty Brown, ele é o apreciado Miguel Barbosa, os dois romances de António A, Albuquerque, que se libertou de Dick Haskins, e a valiosa e persistente presença de literária da enigmática Ana Teresa Pereira e do consistente Francisco José Viegas.


 

 






1 comentário:

Álvaro de Sousa Holstein disse...

Mais uma vez um trabalho excelente. Merecia a sua publicação. Parabéns. Abraço, Álvaro