20 de fevereiro de 2021

Chandler & Marlowe: introdução


Eis uma (ilusória) segunda edição, revista, alterada e aumentada, de um pequeno livro por mim editado, em 2005, de homenagem ao escritor Raymond Chandler, e para assinalar e celebrar o facto, esquecido ou desconhecido por quase todos, de ter ocorrido nesse ano o centenário do nascimento do detective Philip Marlowe, protagonista de todos os seus romances.                                                                            Raymond Chandler escreveu e ficcionou, em fins de 1938, a primeira investigação de Philip Marlowe, a que deu o de The big sleep. Nela, logo de início, o detective, falando de si a pedido do seu cliente, o general Sternwood, revela, para além de outros dados pessoais, ter 33 anos. Daí o poder considerar-se, assim se entende, que teria nascido durante o ano de 1905.                                                                           “Mas é bom lembrar que Philip Marlowe não é uma pessoa real. Ele é uma pessoa imaginária”, desabafou Raymond Chandler, em carta de 19 de outubro de 1951, respondendo ao sr. Inglis, um  leitor  que tanto o questionava sobre o detective.                                                                                                   Não ignorando o esclarecimento, reconheçamos que o mesmo pode ter sido dito por despeito, não querendo o escritor ser ultrapassado, em importância e prestígio, por alguém que apenas devia ser reconhecido como uma criação sua, ou, não por isso, mas apenas por amizade e lealdade para com o parceiro cioso da sua privacidade.                                                                                          Naturalmente, é me mais agradável admitir a segunda hipótese do que a primeira, embora esta possa ser mais plausível. Não é de esquecer que em 1941, já depois de The big sleep e de Farewell, my lovely, e antes de High window, Raymond Chandler tentou fazer esquecer Philip Marlowe, ao entregar para publicação o conto, No crime in the Mountains, dando ao detective narrador o nome de John Evans, embora ele fosse Philip Marlowe em tudo o mais. Aliás, ainda na mesma carta em que nega a existência real de Marlowe, Chandler como que se contradiz ao declarar indignado, linhas à frente: “Repudio a sua sugestão que Philip Marlowe despreza a fraqueza física dos outros. Não sei onde foi buscar tal ideia, e tenho a certeza que não é verdadeira. Estou também um pouco farto das insinuações segundo as quais ele está sempre enfrascado em uísque. A única justificação que vejo para isso é quando lhe apetece uma bebida ele admite o desejo abertamente e não hesita em confirmá-lo.                                                          Seja como for, o que pretendo dizer é que nada me impede de aceitar que Philip Marlowe possa ter sido uma pessoa real, que tenha existido, e não apenas uma criatura imaginada e criada pelo escritor, querendo acreditar nessa possibilidade, sobre ele escrevi, nos dois capítulos que no livro lhe são dedicados, ressalvando que tudo o que revelo, embora suposto, é baseado, tem suporte, nos contos, romances, artigos e cartas do escritor





 

  

 

 

 


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