15 de fevereiro de 2021

MANOJAS: a divagar e recordar - 3

Alguém disse e/ou escreveu, não sei quem, mas alguém que sabia o que dizia ou escrevia, não sei quando ou onde, que alguém, homem ou mulher, para ser verdadeiramente alguém, devia plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Não será uma máxima bíblica, mas não haverá quem, homem ou mulher, não queira ser alguém, e não ambicione, não queira, não deseje, cumprir as três regras. Ouvi ou li a sentença, era então muito jovem, e, pretendendo ser alguém, logo me aprontei a cumpri-la. A árvore plantei na aldeia dos Vidais, aldeia que fica a cerca de 10 quilómetros das Caldas da Rainha, entre as Caldas e Rio Maior, aldeia onde passei muitos verões, aldeia onde nasceu e conheci a Helena, sem na altura me passar pela tonta que viria a aturá-la, e ela a mim, já lá vão 63 anos. Julgo que um pessegueiro, se é que não foi uma pereira ou uma macieira, que posso jurá-lo, medrou. Quanto ao filho, ainda tive que esperar alguns anos. Aliás, tive dois, um casal, e convencionalmente, só depois de estar casado, com a Helena claro está. O mais trabalhoso foi o livro, por muito que eu gostasse de escrever. . Gostaria de ter sido um escritor, um romancista que, em certa medida, vivesse da escrita, mas cedo percebi que não tinha unhas para o ser. Faltou-me o dom, o talento, a imaginação, a coragem, tudo isso e mais alguma coisa? Se lá! O que sei, no entanto, é que tal não evitou que tivesse escrito páginas e páginas, muitas resgadas, de histórias inacabadas, de ideias não concretizadas, mas nem todas perdidas, muitas engavetadas. Registo-as agora e aqui, as que completei e delas me agradei: Chandler & Marlowe (sobre o escritor Raymond Chandler e a sua criatura, o detective Philip Marlowe), edição do autor; Contos do (meu) entardecer (contos de perfil autobiográfico), edição do autor; Teatro esquecido (apresentação anotada de peças do século XIX, do espólio herdado do meu avô), não editado; O fantástico, a ficção científica & géneros afins na novelística portuguesa (cronologia e antologia), edição do autor; Escritos (1981-1989) e o que ficou por dizer (2013) (artigos sobre cinema e literatura), não editado; Literatura policial moderna (história do romance policial); Para a história da literatura policial portuguesa que um dia alguém há-de escrever (cronologia), não editado.


  


1 comentário:

Manuel Loureiro disse...

Acho que foi o Goethe que disse essa do filho, da árvore e do livro. São três tipos de criação: através da natureza (semente), através de outra pessoa e através de um órgão do próprio (cérebro). Enfim, conseguir os três não é tão simples como pode parecer.